Por gentileza do Álvaro Domingues, podemos hoje tomar
contacto com mais uma diatribe da sua desconcertante maneira de ver a crise
urbana, o caos, os mix mais
surpreendentes de funções e usos, em suma o impacto no território do apogeu e
agonia de um modelo de crescimento.
A história fala de cabras, cabrinhas, carneiros, cabrões,
numa sequência geral em que estamos todos a ficar cabreados por todos estes
processos que invadem as nossas condições de vida.
Aqui vai:
“Esta em primeiro plano sou eu, a cabra. O pasto é
uma porcaria e eu estou grávida. Já sei que é uma imprudência nos tempos que
correm mas é a vida. Foi um cabrão. A vida é uma carneirada. Aquelas nove
ovelhas não são menos tolas que eu; convenceram-me a comprar uma daquelas casas
em banda porque o curral estava um esterco e quando chove não se pode estar no
pasto por causa da humidade e da artrite reumatóide. Começou tudo muito bem. As
casas são lindas, perto do pasto e com vistas para o campo. O projecto de
paisagismo para os arranjos dos espaço exteriores é do melhor: muros
aparelhados em pedra de junta seca; esteios re-usados de uma vinha metafísica;
caminhos em saibro e muito espaço verde (ralo). As casas nunca foram acabadas;
passaram diretamente para o estado de vandalismo. Estão sequinhas reduzidas a
betão, sem caixilharias, vidros, nem loiça de quarto de banho e até os fios da
instalação elétrica foram para o gang do metal.
O banco fez um leilão com as casas. Foi tudo comprado por
um músico alemão que diz que uma de preto e outra de branco dá um belo teclado.
A nossa casa parece que vai ser um fá sustenido! Tem outras notas mas mete
dó."
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