(Ou como a
alma penada do Presidente acaba por conspurcar uma palavra que exige uma
utilização atenta e ponderada …)
Era previsível. O cinzentão Cavaco não iria desperdiçar a oportunidade de um
cenário eleitoral antecipável, talvez sem o brilharete do Bloco de Esquerda,
para uma vez mais martirizar a pachorra dos portugueses com a ideia do consenso.
Para Cavaco o consenso não é um albergue espanhol. É um estabelecimento de direito
de acesso reservado. E há quem no PS quem salive em torno da ideia de um arco
de governação que não tenha interrupção pela alternância democrática. Afinal,
para quê interrupções de quatro anos ou mais? Como é que será possível aguentar
a motivação das tropas longe das fraldas do poder?
Costa resiste ao entalanço, mas prevenido quanto à estratégia de o cozinhar
em lume brando. Gente “brilhante” insurge-se por entre as hostes seguristas. O Galamba
truculento, o Pinto Ribeiro ressuscitado das Coreias, o Laranjeira dinâmico que
até cansa, o Álvaro Beleza sedento de uns minutos de atenção mediática e não
espantaria que outros aparentemente enlevados pela ascensão de Costa lhe
preparem agora o foguinho lento, animam com o seu “brilhantismo” o ambiente. Outras
espécies internas, algumas em via acelerada de extinção, fazem-se acolher no
regaço maternal de Belém. Com este partido, bem quebrado, Costa está bem
tramado. No meio disto tudo e reconhecendo a sua fragilidade quase irreversível,
acho que Costa tem razão. Recompor a história com uma aliança consistente com
os partidos mais à esquerda seria uma corrida de fundo para a qual não há pista
nem tempo. Entregar-se nas mãos de um acordo global com a direita irredutível
(porque só há esta e adireitou-se) seria conduzir o PS rapidamente a uma “paokização”
e colocar o Bloco nos intervalos do SYRIZA. Só estranho que Porfírio Silva só o
tenha descoberto agora e não no momento em que preparou o posicionamento pré-eleitoral
de Costa. A inteligência política de Costa vai ser posta à prova na prova de
seletividade que evidenciar para gerar acordos pontuais com o governo e
manifestações legislativas conjuntas de esquerda global.
Cheira-me que as presidenciais vão ser um tédio profundo. O meu amigo António
Nóvoa já se terá apercebido que a dinâmica de fundo que ele ambicionava exige
outra máquina de animação no território que ele não tem e sobretudo uma direção
central (quem serão as inteligências?) com maior capacidade de risco e maior
abertura à descentralização de protagonismos. Tenho tido informações que o
centralismo da pequena direção é atroz e preocupante.
Sem Nóvoa no horizonte, ou melhor com névoas nesse mesmo horizonte, se não desistir
terá o meu voto de sacrificado e de amigo. Se desistir ainda vou acabar por votar
em Marcelo porque, mesmo católico, intriguista e gestor do património da causa
monárquica, não cheira a bafio “contable” como Rui Rio e fazer de pastorinho de
Belém nem por sombras.
Mas que tempo político este!
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