segunda-feira, 12 de outubro de 2015

LABIRINTOS DA FORMAÇÃO DE UM NOVO GOVERNO (II)




(O que teria Cavaco dito a Costa?)

À medida que as cenas dos próximos capítulos deixam de o ser para se transformarem em acontecimentos reais, parece cada vez mais verosímil que António Costa não está a fazer bluff, parecendo convicto das vantagens em avaliar se o PS pode protagonizar no governo a representação de uma maioria aritmética que se transforma em maioria política. Um simples indicador sugere-me essa possibilidade: João Pedro Matos Fernandes estar na delegação do PS para a reunião com os Verdes, segundo o DN on line. Como referi no último post, poderia fazê-lo apenas para contrapor à maioria um conjunto de exigências mais alargadas que justificariam a sua abstenção à atuação da maioria. Mas à medida que as tais cenas vão desfilando enquanto realidade vai tornando-se mais credível a hipótese de Costa pretender apresentar a Cavaco a opção de governo minoritário com uma maioria parlamentar de suporte e respeito pelos compromissos internacionais. Mas não é certo que Costa vença a divisão no interior do partido. E também não é certo que tudo isto aguente a enorme pressão que os mais despudorados defensores dos interesses dos mercados vão começar a exercer a partir deste momento. Ela já começou mais oculta ou mais declarada e estou em crer que as instituições europeias com a Alemanha à cabeça não excluirão o acentuar dessas pressões arguindo com o tema da estabilidade responsável. Claro que o anátema de quem perde eleições poder governar ninguém o pode retirar dos ombros de António Costa. Isso vai ser glosado até à exaustão.

Desconhecem-se por agora os termos do documento facilitador que a coligação terá hoje enviado para o Largo do Rato. Mas cheira-me que nunca terá passado pela cabeça à maioria a concretização desta possibilidade, assim o permitem concluir as intervenções iniciais de Marco António Costa e Pedro Soares na noite eleitoral. Do ponto de vista do interesse da maioria parece-me ter sido um erro estratégico de grande calibre deixar António Costa dialogar à sua esquerda sem lhe dar conhecimento das condições de cedência possível. Ou seja, a coligação subvalorizou o adversário e deixou-o ganhar embalagem. Bem razão tinha Teresa de Sousa quando escreveu que não compreendia porque Passos Coelho ria com a situação.

Daí a interrogação inicial. Não é difícil antecipar o que disse Costa a Cavaco. Mas o que terá dito Cavaco a Costa? Um apelo dramático à sua responsabilidade, alertando-o para as consequências possíveis de não dominar as consequências da reação internacional ou se preferirem dos mercados? Ou terá simplesmente escutado Costa com cara de pau?

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