(O que teria
Cavaco dito a Costa?)
À medida que as cenas dos próximos capítulos deixam de o ser para se
transformarem em acontecimentos reais, parece cada vez mais verosímil que António
Costa não está a fazer bluff, parecendo convicto das vantagens em avaliar se o
PS pode protagonizar no governo a representação de uma maioria aritmética que
se transforma em maioria política. Um simples indicador sugere-me essa possibilidade:
João Pedro Matos Fernandes estar na delegação do PS para a reunião com os
Verdes, segundo o DN on line. Como referi no último post, poderia fazê-lo apenas para contrapor à
maioria um conjunto de exigências mais alargadas que justificariam a sua abstenção
à atuação da maioria. Mas à medida que as tais cenas vão desfilando enquanto realidade
vai tornando-se mais credível a hipótese de Costa pretender apresentar a Cavaco
a opção de governo minoritário com uma maioria parlamentar de suporte e respeito
pelos compromissos internacionais. Mas não é certo que Costa vença a divisão no
interior do partido. E também não é certo que tudo isto aguente a enorme pressão
que os mais despudorados defensores dos interesses dos mercados vão começar a
exercer a partir deste momento. Ela já começou mais oculta ou mais declarada e
estou em crer que as instituições europeias com a Alemanha à cabeça não excluirão
o acentuar dessas pressões arguindo com o tema da estabilidade responsável. Claro
que o anátema de quem perde eleições poder governar ninguém o pode retirar dos
ombros de António Costa. Isso vai ser glosado até à exaustão.
Desconhecem-se por agora os termos do documento facilitador que a coligação
terá hoje enviado para o Largo do Rato. Mas cheira-me que nunca terá passado
pela cabeça à maioria a concretização desta possibilidade, assim o permitem concluir
as intervenções iniciais de Marco António Costa e Pedro Soares na noite eleitoral.
Do ponto de vista do interesse da maioria parece-me ter sido um erro estratégico
de grande calibre deixar António Costa dialogar à sua esquerda sem lhe dar
conhecimento das condições de cedência possível. Ou seja, a coligação
subvalorizou o adversário e deixou-o ganhar embalagem. Bem razão tinha Teresa
de Sousa quando escreveu que não compreendia porque Passos Coelho ria com a
situação.
Daí a interrogação inicial. Não é difícil antecipar o que disse Costa a
Cavaco. Mas o que terá dito Cavaco a Costa? Um apelo dramático à sua
responsabilidade, alertando-o para as consequências possíveis de não dominar as
consequências da reação internacional ou se preferirem dos mercados? Ou terá simplesmente
escutado Costa com cara de pau?
Sem comentários:
Enviar um comentário