terça-feira, 27 de outubro de 2015

POR QUE RAZÃO (ÕES) O NORTE E O CENTRO NÃO CONVERGEM? TAKE 4




(Conclusões da reflexão produzida conjuntamente com a ADC e a DG Regio)

Para fechar esta série de posts deixo aqui hoje as principais conclusões que resultam da minha apresentação ao projeto Lagging Regions que a DG Regio em colaboração em Portugal com a ADC, centrado na divergência das regiões Norte e Centro em relação à União Europeia.

1. Existem de facto problemas de modelo de governança e de esgotamento do quado institucional de suporte à distribuição territorial do investimento público, sobretudo quando esse investimento visa objetivos de competitividade. A reflexão realizada conclui que esses fatores de governança e de esgotamento de quadro institucional podem implicar alocações erradas de recursos. Mas conclui também que a sua influência acentua a importância de fatores estruturais relacionados com o modelo de competitividade e de qualificação de ativos que tem caracterizado os processos de divergência do Norte e do Centro.
2. Os fatores estruturais que condicionam o modelo produtivo das regiões Norte e Centro e estão no cerne do seu processo de divergência devem ser entendidos não apenas como problemas regionais, mas também como problemas nacionais. A transformação do modelo produtivo das duas regiões está no coração da transformação que a economia portuguesa vem buscando no sentido de abandonar definitivamente o seu modelo assente na capacidade de criação de emprego desqualificado e construir um modelo de especialização e competitividade que, sem abandonar necessariamente os seus padrões históricos de industrialização setorial, seja capaz de incorporar mais inovação, mais conhecimento e diversificação. A consideração de problemas regionais como problemas também nacionais tem importantes implicações em termos de modelo de governação e aponta para a necessidade de uma eficaz territorialização das políticas de inovação e internacionalização.
3. O processo de divergência das regiões Norte e Centro coexiste com processos de convergência ao nível das suas NUTS III relativamente às médias de cada uma das regiões. Nesta reflexão, essa convergência é analisada unicamente através do comportamento do PIC per capita a preços correntes das NUTS III em relação à evolução do PIB per capita também a preços correntes de ambas as regiões. Uma análise mais aprofundada em termos de convergência absoluta e condicional seria necessária para apreender mais robustamente essa convergência, mas essa exploração econométrica foi considerada que transcendia o objeto da presente reflexão. Há, no entanto, a perceção de que numa abordagem ao nível de NUTS III permite identificar dois tipos de problemas nesses territórios: NUTS III que estão no coração dos problemas de mudança estrutural atrás assinalados e NUTS III, interiores e em esvaziamento demográfico, que embora registando ritmos de crescimento do PIB e do IB per capita (este último muito influenciado pelo efeito denominador), estão estruturalmente em busca de um novo modelo de desenvolvimento. Essa busca é tanto mais imperiosa, quanto maior é a perceção de que o modelo “Build it and they will come” está esgotado.
4. A reflexão concluiu ainda que o modelo institucional que enquadrou a distribuição territorial do investimento público nos últimos tempos está esgotado. Esse esgotamento é tanto mais visível, quanto mais intensa for a relevância dos objetivos de competitividade nas políticas de coesão.
5. A tensão em que se encontra o modelo “Estado centralizado forte – municípios com grande capacidade de influenciar o padrão espacial do investimento público-regiões de planeamento débil do ponto de vista da vinculação das suas decisões” não é nosso entender significativamente aliviável através do foco recente nas Comunidades Intermunicipais (CIM). Em matéria de promoção do desenvolvimento económico, com margem de manobra estreita nas regiões com maior escassez de entrepreneurship, as CIM não constituem o foco institucional adequado para uma pertinente e eficaz territorialização das políticas públicas de inovação. O prematuro desaparecimento das Agências de Desenvolvimento Regional penaliza ainda mais esse vazio de centros de racionalidade para as políticas territoriais de competitividade.
6. Uma dinâmica emergente bastante promissora do ponto de vista da inversão das tendências de divergências das regiões Norte e Centro está presente nos Sistemas Regionais de Inovação em vias de estruturação nas regiões de maior concentração urbano-industrial exportadora destas regiões. Este documento identificou os traços estruturais que em nosso entender são mais promissores e potenciadores de uma viragem. Identificou também algumas debilidades que se situam sobretudo na não coevolução (ou pelo menos com evolução ao mesmo ritmo) das chamadas “tecnologias sociais” no sentido de que Richard Nelson e outros economistas evolucionistas associam aos sistemas de inovação bem-sucedidos. Nessas tecnologias sociais temos que referir a cultura de mérito, de risco, o foco na proximidade às empresas, a cultura organizacional das empresas orientada para a inovação entre as mais importantes.
7. A construção de um modelo de governação para estes dois Sistemas Regionais de Inovação, com contributo ambivalente para a inversão da divergência, modernização de setores históricos de industrialização e novas áreas de aposta como os sistemas de informação, a automação e as ciências da vida, constitui um desafio maior da territorialização da política de inovação. Na nossa reflexão, a procura desse modelo não pode ignorar as seguintes três dimensões: os modelos de governação das Estratégias Regionais de Especialização Inteligente do Norte e Centro, os processos de consolidação de clusters e polos de competitividade apoiados pelo QREN 2007-2013 e a Agência Nacional de Inovação. Organizados como dois sistemas ou como um só (tal como a abordagem do Noroeste Global o sugere) é uma questão que deve ser aprofundada.

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