(O “Endogenous
Technological Change” de Paul Romer faz 25 anos e ainda há quem não compreenda
o seu alcance…)
Em vez de dedicar o dia à reflexão política e preparando a futura resiliência
face ao que pode acontecer, regressei à teoria económica, sobretudo aquela que
não está subjacente ao monstruoso erro de abordagem macroeconómica que a
tecnocracia europeia tem conduzido a grande maioria dos governos europeus.
E nessa deambulação dei comigo a registar com o contributo de Joshua Gans noDigitopoly que o modelo de Paul Romer
focado na teorização do progresso técnico endógeno fez 25 anos. A publicação do
“Endogeneous Technological Change” em 1990 no
Journal of Political Economy, uma das
revistas melhor pontuadas e geralmente apontada como o reduto dos economistas
de Chicago, veio culminar com uma demonstração rigorosa várias intuições de
economistas anteriores. Tais intuições apontavam para que o progresso técnico,
ou seja, a incorporação de novo conhecimento em processos de inovação (novos
produtos, novos processos) não constituísse na economia uma dádiva do céu,
exterior à economia. Em termos económicos mais elegantes, alguns economistas intuíam
que o progresso técnico não seria necessariamente resultante de um processo exógeno
à economia, mas antes pelo contrário endógeno, ou seja, suscetível de ser
influenciado por decisões de investimento. Paul Romer estava em excelentes
condições para o fazer. Na sua tese de 1986, trabalhou a hipótese do
crescimento económico se concretizar com rendimentos crescentes. Em raciocínio
simples, podemos ter uma ideia com valor económico que existe como tal e não é
duplicada e assim mesmo duplicar capital físico e trabalhadores. Quanto mais
multiplicarmos o capital físico e o número de trabalhadores para aumentar a
produção económica do resultado dessa ideia mais barata fica essa ideia em
termos de produto unitário vendido. A isto chama-se rendimentos crescentes, ou
seja, com o conhecimento inserido na produção não tenho de multiplicar todos os
fatores pela mesma constante K para aumentar a produção.
Ora o modelo de 1990 de Romer fornece uma demonstração rigorosa de como a
produção de conhecimento resulta de uma deliberada alocação de recursos (de
capital físico e de capital humano para produzir esse conhecimento) e como é possível
identificar os incentivos económicos para que as empresas ou os empresários
individuais aloquem recursos a essa produção de conhecimento. Aquilo que
vulgarmente hoje se designa por investimento em I&D não é mais do que a
alocação de recursos de capital físico e de capital humano à produção de conhecimento
passível de gerar valor económico. O incentivo para o fazer está no poder de
monopólio que a ideia nova vai possibilitar, enquanto que no mercado não é
replicada uma ideia melhor, com maior potencial de criação de valor. A Romer
devemos a demonstração de que a plena compreensão da inovação exige que
ponderemos os mercados de concorrência imperfeita.
A efeméride tem neste blogue lugar porque o modelo de Romer mostra que a
modelização económica nem sempre significa ocultação ou trapaça. Por vezes,
como é este o caso, a modelização traça um caminho de futuro, abre orientações
para o aprofundamento das ideias, por mais obscuras sejam as forças que tudo
fizeram para que a concorrência imperfeita e monopolista fosse remetida para um
plano secundário.
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