(Continuamos
pouco atentos ao que vai sendo pensado lá por fora por gente respeitada e não
apenas por “perigosos” radicais)
O mundo está difícil não
só no plano político mas também no económico. Os bancos centrais vão fazendo o
que podem, mas a política monetária ao seu alcance está longe ter produzido os
resultados que a sua ambição visava atingir. As chamadas operações de “quantitative easing” foram apresentadas
como não ortodoxas e com essa não ortodoxia pretendia-se atingir resultados
para além dos conseguidos com o velho normal. Através destas operações, os
bancos centrais compram ativos do tipo dos títulos da dívida pública acumulados
pelos bancos comerciais em troca de moeda criada. O objetivo prosseguido por
estas operações na zona euro, EUA e Reino Unido, embora com especificidades, visam
incrementar a liquidez dos mercados financeiros e por essa via estimular o
crescimento. Este tipo de operações pode ser a todo o momento revertido desde
que a banca possa assumir de volta os títulos que alienou ao banco central.
Tecnicamente, diz-se que
tais operações se limitam a aumentar a chamada base monetária, conduzindo
efetivamente à criação de oferta de moeda se os bancos comerciais traduzirem
por sua vez essas operações em diferentes modalidades de crédito. As evidências quanto a resultados destas operações de
“monetarização facilitada” são matizadas, já que o contexto de “taxas de juro
próximas de zero ou negativas” pode ser, na perspetiva de alguns economistas, o
sintoma de algo mais grave, como o tema da “estagnação secular” tão analisado
por mim neste blogue ilustra cabalmente. O “quantitative
easing” é uma tentativa desesperada e a contragosto dos que continuam a
pensar, erradamente diga-se, que a política monetária pode dispensar em
contextos desta natureza a ajuda da política fiscal. Face aos resultados
mitigados que se têm atingido, há quem pense em medidas mais ousadas. Sinal dos
tempos, compreenderemos melhor quando nos apercebermos de que medidas estão em
debate neste momento.
Ora, imagine-se que um
economista reputado como Olivier Blanchard, ex-economista chefe do FMI,
defendeu numa conferência proferida na prestigiada Cass Business School, segundo a Reuters, que poderia haver um “quantitative easing” para as pessoas.
Como? Os bancos centrais, em vez de comprar títulos anteriormente possuídos
pela banca comercial, poderiam “comprar bens”, ou seja, monetarizar dívida
pública contraída para operações de investimento em infraestruturas.
Compreende-se a lógica. Trata-se de conseguir uma via mais direta para
estimular a economia e contornar assim o efeito amortecedor que a banca tem
criado no “não ortodoxo normal quantitative
easing”.
Abre-se, assim, um novo
caminho que ilustra bem como foi relevante a decisão dos bancos centrais
enveredarem pelo já mencionado “quantitative
easing”. Esse novo caminho é a discussão de alternativas a essa modalidade
de intervenção monetária na economia. Já há quem discuta três alternativas: a
detenção de moeda ser paga para que o conceito de taxa de juro negativa possa
ser aplicado (veja-se aqui o discurso de Andrew Haldane, economista-chefe do
Banco de Inglaterra; pensar-se numa meta de inflação de 4 e não de 2% como tem
sido praticado nos últimos tempos; receber um cheque da parte do Banco Central
para poder aplicar em consumo. Soluções estranhas, não? Sinal dos tempos de
mudança que alguns teimam em não compreender.
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