domingo, 25 de outubro de 2015

QUANTITATIVE EASING PARA AS PESSOAS?




(Continuamos pouco atentos ao que vai sendo pensado lá por fora por gente respeitada e não apenas por “perigosos” radicais)

O mundo está difícil não só no plano político mas também no económico. Os bancos centrais vão fazendo o que podem, mas a política monetária ao seu alcance está longe ter produzido os resultados que a sua ambição visava atingir. As chamadas operações de “quantitative easing” foram apresentadas como não ortodoxas e com essa não ortodoxia pretendia-se atingir resultados para além dos conseguidos com o velho normal. Através destas operações, os bancos centrais compram ativos do tipo dos títulos da dívida pública acumulados pelos bancos comerciais em troca de moeda criada. O objetivo prosseguido por estas operações na zona euro, EUA e Reino Unido, embora com especificidades, visam incrementar a liquidez dos mercados financeiros e por essa via estimular o crescimento. Este tipo de operações pode ser a todo o momento revertido desde que a banca possa assumir de volta os títulos que alienou ao banco central.

Tecnicamente, diz-se que tais operações se limitam a aumentar a chamada base monetária, conduzindo efetivamente à criação de oferta de moeda se os bancos comerciais traduzirem por sua vez essas operações em diferentes modalidades de crédito. As evidências quanto a resultados destas operações de “monetarização facilitada” são matizadas, já que o contexto de “taxas de juro próximas de zero ou negativas” pode ser, na perspetiva de alguns economistas, o sintoma de algo mais grave, como o tema da “estagnação secular” tão analisado por mim neste blogue ilustra cabalmente. O “quantitative easing” é uma tentativa desesperada e a contragosto dos que continuam a pensar, erradamente diga-se, que a política monetária pode dispensar em contextos desta natureza a ajuda da política fiscal. Face aos resultados mitigados que se têm atingido, há quem pense em medidas mais ousadas. Sinal dos tempos, compreenderemos melhor quando nos apercebermos de que medidas estão em debate neste momento.

Ora, imagine-se que um economista reputado como Olivier Blanchard, ex-economista chefe do FMI, defendeu numa conferência proferida na prestigiada Cass Business School, segundo a Reuters, que poderia haver um “quantitative easing” para as pessoas. Como? Os bancos centrais, em vez de comprar títulos anteriormente possuídos pela banca comercial, poderiam “comprar bens”, ou seja, monetarizar dívida pública contraída para operações de investimento em infraestruturas. Compreende-se a lógica. Trata-se de conseguir uma via mais direta para estimular a economia e contornar assim o efeito amortecedor que a banca tem criado no “não ortodoxo normal quantitative easing”.

Abre-se, assim, um novo caminho que ilustra bem como foi relevante a decisão dos bancos centrais enveredarem pelo já mencionado “quantitative easing”. Esse novo caminho é a discussão de alternativas a essa modalidade de intervenção monetária na economia. Já há quem discuta três alternativas: a detenção de moeda ser paga para que o conceito de taxa de juro negativa possa ser aplicado (veja-se aqui o discurso de Andrew Haldane, economista-chefe do Banco de Inglaterra; pensar-se numa meta de inflação de 4 e não de 2% como tem sido praticado nos últimos tempos; receber um cheque da parte do Banco Central para poder aplicar em consumo. Soluções estranhas, não? Sinal dos tempos de mudança que alguns teimam em não compreender.

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