sábado, 20 de julho de 2013

VIANA, SOUTO MOURA E CAMANÉ



Dei numa de popular e de cidadão emprestado do Alto Minho e assisti ontem à noite ao concerto inaugural do Centro Cultural de Viana do Castelo, projeto do Arquiteto Souto Moura e aposta clara da Câmara de Viana do Castelo para transformar a frente ribeirinha, da ponte velha ao ancoradouro em que permanece o Gil Eanes, numa nova centralidade urbana.
Há dias tinha passado uns momentos na Biblioteca Municipal, projeto de Siza Vieira e deliciara-me com as suas inúmeras janelas, que são uma das minhas fixações, rasgadas e desbordando de luz, seja para o rio, seja a frente portuária, e com o requinte de sobriedade do mobiliário da biblioteca, uma educação para o gosto visual de todos os que demandam diariamente aquele equipamento.
A tríade marina – Biblioteca Municipal – Centro Cultural é uma aposta forte, certamente difícil de replicar nos tempos que correm noutro qualquer lugar e interrogo-me o que é essa frente representará de encargos correntes e de manutenção nos próximos tempos.
Ontem, a frente ribeirinha respirava animação, as pessoas locais satisfação e a última sondagem consagrava também ontem o sensato José Maria Costa com uma robusta maioria absoluta para a sua reeleição como Presidente.
A combinação Viana – Souto Moura – Camané para um concerto inaugural não é nem fácil, nem espontânea e por isso estava com curiosidade de viver o momento. O projeto de Souto Moura está concebido como um pavilhão aberto seja sobre a frente ribeirinha, seja sobre a frente urbana renovada que acompanha todo o jardim. Na plateia ou nas bancadas pode ver-se o Gil Eanes e essa frente urbana renovada, o que produz uma sensação não vulgar e à qual os espectadores tendem a ajustar o seu olhar e atenção. Camané vive melhor em espaços mais recatados do que propriamente um pavilhão aberto sobre o exterior, mas mesmo assim e apesar de um som que não favorecia a limpidez da sua dicção, o público rendeu-se e a empatia chegou. O “Ai Margarida …” de Álvaro de Campos e Mário Laginha exigia um outro ambiente, mas seduz-me em qualquer contexto.
O coração imagem da comunicação de Viana irradiava com dignidade no palco.
Em noite de desacordo, o povo saiu confortado e a cidade despertava para alguma animação que irradiava da frente ribeirinha para o centro histórico.

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