Dei numa de popular e de
cidadão emprestado do Alto Minho e assisti ontem à noite ao concerto inaugural do
Centro Cultural de Viana do Castelo, projeto do Arquiteto Souto Moura e aposta
clara da Câmara de Viana do Castelo para transformar a frente ribeirinha, da
ponte velha ao ancoradouro em que permanece o Gil Eanes, numa nova centralidade
urbana.
Há dias tinha passado uns
momentos na Biblioteca Municipal, projeto de Siza Vieira e deliciara-me com as suas
inúmeras janelas, que são uma das minhas fixações, rasgadas e desbordando de
luz, seja para o rio, seja a frente portuária, e com o requinte de sobriedade
do mobiliário da biblioteca, uma educação para o gosto visual de todos os que
demandam diariamente aquele equipamento.
A tríade marina – Biblioteca
Municipal – Centro Cultural é uma aposta forte, certamente difícil de replicar
nos tempos que correm noutro qualquer lugar e interrogo-me o que é essa frente
representará de encargos correntes e de manutenção nos próximos tempos.
Ontem, a frente ribeirinha
respirava animação, as pessoas locais satisfação e a última sondagem consagrava
também ontem o sensato José Maria Costa com uma robusta maioria absoluta para a
sua reeleição como Presidente.
A combinação Viana – Souto Moura
– Camané para um concerto inaugural não é nem fácil, nem espontânea e por isso
estava com curiosidade de viver o momento. O projeto de Souto Moura está
concebido como um pavilhão aberto seja sobre a frente ribeirinha, seja sobre a
frente urbana renovada que acompanha todo o jardim. Na plateia ou nas bancadas
pode ver-se o Gil Eanes e essa frente urbana renovada, o que produz uma sensação
não vulgar e à qual os espectadores tendem a ajustar o seu olhar e atenção. Camané
vive melhor em espaços mais recatados do que propriamente um pavilhão aberto sobre
o exterior, mas mesmo assim e apesar de um som que não favorecia a limpidez da
sua dicção, o público rendeu-se e a empatia chegou. O “Ai Margarida …” de Álvaro
de Campos e Mário Laginha exigia um outro ambiente, mas seduz-me em qualquer
contexto.
O coração imagem da comunicação de Viana irradiava com dignidade no palco.
Em noite de desacordo, o
povo saiu confortado e a cidade despertava para alguma animação que irradiava
da frente ribeirinha para o centro histórico.
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