Com um fim-de-semana às
voltas com a conclusão de um relatório de avaliação sobre os instrumentos de
política pública de apoio à inovação e internacionalização das empresas, que me
libertará finalmente o espírito e o corpo para duas semanas de férias, fixo-me
nas sondagens preliminares para as eleições à Câmara Municipal do Porto.
O caso do Porto, visto à
distância de aproximadamente dois meses do ato eleitoral, confirma a minha
avaliação já aqui repetidas vezes desenvolvida de que o PS está nitidamente a
sobrevalorizar o impacto das eleições autárquicas na manifestação de um voto
(urbano) de protesto contra o descalabro da governação da maioria nos seus dois
primeiros anos de vida, os anos do empobrecimento generalizado e do desemprego
extensivo. Talvez mais a Norte do que a Sul, há exemplos relevantes que podem
perturbar o raciocínio eleitoral do PS, com Porto e Braga a assumirem uma posição
de destaque. No caso de Braga, a sucessão de Mesquita Machado pode ser traumática
e apesar de toda a incompetência governativa Ricardo Rio luta ombro a ombro com
Vítor Cruz. Podemos aí assistir ao paradoxo dos inúmeros investimentos na
Cidade realizados pelo executivo atual do PS poderem ser os recursos com que o
adversário político vai contar. No caso de Manuel Pizarro, trata-se de um mistério
insondável que só uma menos cuidada ação da máquina política do PS pode
explicar. Pelos resultados hoje publicados no JN, Pizarro está ainda muito longe de
segurar os cerca de 34% de votação atingida pela partidariamente desamparada
Elisa Ferreira, estabilizando em torno dos 22%, o que é revelador daquele mistério.
O resultado é tanto mais misterioso quanto se sabe que o candidato tem feito
trabalho de formiguinha nas zonas mais populares da Cidade, o que pode sugerir
que o populismo de Meneses supera esse voluntarismo. Entretanto, Rui Moreira
parece apresentar uma tendência para subir e o sempre “calimero” Nuno Cardoso
aparece finalmente nos radares das sondagens.
Estes exemplos mostram que o
PS pode dar-se mal contando com o ovo no cu da galinha das autárquicas, o que
seria revelador que a população, mesmo a mais urbana sobretudo a norte e
centro, distingue bem o âmbito da intervenção eleitoral em autárquicas e em
legislativas. Se isso acontecer, o PS precisará de outro aquecimento de
motores.
Noto, entretanto, que o
somatório de Pizarro, Pedro Carvalho (PCP) e José Soeiro (BE) consegue superar
ligeiramente a votação de Elisa Ferreira e pergunto-me porque é que não é possível
um entendimento mínimo à esquerda como já existiu no passado em Lisboa? Quando
em terrenos mais fáceis para ele acontecer, como é o caso do Porto, o
entendimento fica refém do taticismo eleitoral, não me venham com tretas, mesmo
que elas venham de pessoas que muito admiro intelectualmente (Francisco Louça,
por exemplo), de que o entendimento à esquerda é possível em Portugal!
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