domingo, 28 de julho de 2013

O MISTÉRIO PIZARRO



Com um fim-de-semana às voltas com a conclusão de um relatório de avaliação sobre os instrumentos de política pública de apoio à inovação e internacionalização das empresas, que me libertará finalmente o espírito e o corpo para duas semanas de férias, fixo-me nas sondagens preliminares para as eleições à Câmara Municipal do Porto.
O caso do Porto, visto à distância de aproximadamente dois meses do ato eleitoral, confirma a minha avaliação já aqui repetidas vezes desenvolvida de que o PS está nitidamente a sobrevalorizar o impacto das eleições autárquicas na manifestação de um voto (urbano) de protesto contra o descalabro da governação da maioria nos seus dois primeiros anos de vida, os anos do empobrecimento generalizado e do desemprego extensivo. Talvez mais a Norte do que a Sul, há exemplos relevantes que podem perturbar o raciocínio eleitoral do PS, com Porto e Braga a assumirem uma posição de destaque. No caso de Braga, a sucessão de Mesquita Machado pode ser traumática e apesar de toda a incompetência governativa Ricardo Rio luta ombro a ombro com Vítor Cruz. Podemos aí assistir ao paradoxo dos inúmeros investimentos na Cidade realizados pelo executivo atual do PS poderem ser os recursos com que o adversário político vai contar. No caso de Manuel Pizarro, trata-se de um mistério insondável que só uma menos cuidada ação da máquina política do PS pode explicar. Pelos resultados hoje publicados no JN, Pizarro está ainda muito longe de segurar os cerca de 34% de votação atingida pela partidariamente desamparada Elisa Ferreira, estabilizando em torno dos 22%, o que é revelador daquele mistério. O resultado é tanto mais misterioso quanto se sabe que o candidato tem feito trabalho de formiguinha nas zonas mais populares da Cidade, o que pode sugerir que o populismo de Meneses supera esse voluntarismo. Entretanto, Rui Moreira parece apresentar uma tendência para subir e o sempre “calimero” Nuno Cardoso aparece finalmente nos radares das sondagens.
Estes exemplos mostram que o PS pode dar-se mal contando com o ovo no cu da galinha das autárquicas, o que seria revelador que a população, mesmo a mais urbana sobretudo a norte e centro, distingue bem o âmbito da intervenção eleitoral em autárquicas e em legislativas. Se isso acontecer, o PS precisará de outro aquecimento de motores.
Noto, entretanto, que o somatório de Pizarro, Pedro Carvalho (PCP) e José Soeiro (BE) consegue superar ligeiramente a votação de Elisa Ferreira e pergunto-me porque é que não é possível um entendimento mínimo à esquerda como já existiu no passado em Lisboa? Quando em terrenos mais fáceis para ele acontecer, como é o caso do Porto, o entendimento fica refém do taticismo eleitoral, não me venham com tretas, mesmo que elas venham de pessoas que muito admiro intelectualmente (Francisco Louça, por exemplo), de que o entendimento à esquerda é possível em Portugal!

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