domingo, 21 de julho de 2013

A CRISE SEGUE DENTRO DE MOMENTOS



Numa festa luso-angolana, intensa e simpática, cujas redes vão muito para além da diplomacia económica, não deu para ouvir em direto a comunicação de Cavaco e na festa ninguém deu por ela.
Reajo após a leitura da comunicação do presidente. A decisão pode ser criticável, mas está no seu legítimo direito de assim decidir. Curiosamente, pelos vistos, a maioria da população inquirida em sondagem para o efeito não colocava as eleições antecipadas em primeira opção, mas apenas em segunda, o que sugere que a neolinguagem da estabilidade está também a penetrar a maioria da população.
Mas a imagem que se me forma no espírito é a de “a crise segue dentro de momentos”.
Assistiremos nos próximos tempos e sobretudo na preparação do orçamento para 2014 à transformação do sapo da governação em coisa mais escorreita, competente, coesa e sobretudo disposta a não continuar a utilizar o memorando de entendimento como fórmula não escrutinada de revisão constitucional? Duvido.
Por sua vez e apesar de não ter nada para apresentar aos seus apoiantes, o PS ganha tempo, mas não muito. Por agora, as propostas que o PS levou à negociação (falhada) podem ser consideradas uma alternativa de condução das coisas da governação. A maioria pode considerá-las irrealistas mas, no contexto criado, o PS poderá sempre acenar com a tese de que a situação ficou mais clara com a explicitação de duas vias para a superação da crise portuguesa. Mas esse tempo não é longo. Mais tarde ou mais cedo, à medida que o cenário da governação se torne mais nítido para o PS, algumas das medidas agora propostas terão de ser reconsideradas face às circunstâncias concretas dessa governação e aí veremos que a solução é mais híbrida do que o discurso de Seguro agora sugere.
À esquerda do PS continuará o cavalgar do voto de protesto.
Custa-me aceitá-lo mas o tempo político pode dar razão a Cavaco quando afirma que “mais cedo ou mais tarde, um compromisso interpartidário alargado será imposto pela evolução da realidade política”. Certamente que, em posição de eventual partido mais votado, o PS terá melhores condições para negociar um entendimento mais alargado que a contagem dos votos. Terá pelo menos melhores condições para evitar a dupla pressão em que se deixou acantonar nos últimos dias: à direita a pressão para a sua domesticação, no seu próprio interior a pressão para rejeitar qualquer negociação. Mas neste tipo de conjunturas um ano ou dois é muito tempo e não será indiferente a gestão parlamentar e política em geral que o PS fará desta situação.

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