Numa festa luso-angolana,
intensa e simpática, cujas redes vão muito para além da diplomacia económica, não
deu para ouvir em direto a comunicação de Cavaco e na festa ninguém deu por
ela.
Reajo após a leitura da
comunicação do presidente. A decisão pode ser criticável, mas está no seu legítimo
direito de assim decidir. Curiosamente, pelos vistos, a maioria da população
inquirida em sondagem para o efeito não colocava as eleições antecipadas em
primeira opção, mas apenas em segunda, o que sugere que a neolinguagem da
estabilidade está também a penetrar a maioria da população.
Mas a imagem que se me forma
no espírito é a de “a crise segue dentro de momentos”.
Assistiremos nos próximos
tempos e sobretudo na preparação do orçamento para 2014 à transformação do sapo
da governação em coisa mais escorreita, competente, coesa e sobretudo disposta
a não continuar a utilizar o memorando de entendimento como fórmula não
escrutinada de revisão constitucional? Duvido.
Por sua vez e apesar de não
ter nada para apresentar aos seus apoiantes, o PS ganha tempo, mas não muito. Por
agora, as propostas que o PS levou à negociação (falhada) podem ser
consideradas uma alternativa de condução das coisas da governação. A maioria
pode considerá-las irrealistas mas, no contexto criado, o PS poderá sempre
acenar com a tese de que a situação ficou mais clara com a explicitação de duas
vias para a superação da crise portuguesa. Mas esse tempo não é longo. Mais
tarde ou mais cedo, à medida que o cenário da governação se torne mais nítido
para o PS, algumas das medidas agora propostas terão de ser reconsideradas face
às circunstâncias concretas dessa governação e aí veremos que a solução é mais
híbrida do que o discurso de Seguro agora sugere.
À esquerda do PS continuará
o cavalgar do voto de protesto.
Custa-me aceitá-lo mas o
tempo político pode dar razão a Cavaco quando afirma que “mais cedo ou mais
tarde, um compromisso interpartidário alargado será imposto pela evolução da
realidade política”. Certamente que, em posição de eventual partido mais votado,
o PS terá melhores condições para negociar um entendimento mais alargado que a
contagem dos votos. Terá pelo menos melhores condições para evitar a dupla
pressão em que se deixou acantonar nos últimos dias: à direita a pressão para a
sua domesticação, no seu próprio interior a pressão para rejeitar qualquer
negociação. Mas neste tipo de conjunturas um ano ou dois é muito tempo e não
será indiferente a gestão parlamentar e política em geral que o PS fará desta
situação.
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