Acabo de sair do sofá com
alguma corrente de ar e deliciar-me com a final de Wimbledon, uma final simbólica,
com todo o Reino Unido concentrado na figura e na esperança de Andy Murray em
juntar um nome das ilhas ao palmarés da prova depois de um longínquo Fred Perry,
ironicamente um escocês. Até Cameron juntou a sua gravata azul ao colorido das
bancadas, afinal não abundam para David fatores de comemoração.
Tudo correu bem à esperança
britânica, sobretudo porque Murray conseguiu em três sets resolver o problema e
evitar que a avassaladora capacidade de resistência sérvia de Djokovic
conduzisse o jogo para uma interminável luta de resistência, na qual teria
seguramente vantagem.
Murray está mais
consistente, sobretudo depois da vitória nos Olímpicos de 2012 face a Federer e
essa diferença tem um nome – Ivan Lendl. Hoje, no camarote dedicado à equipa de
Murray, com a mãe Judy a dominar com a sua presença austera o clan, a figura
imperturbável de Lendl impressionava sempre que Andy tremia, sobretudo num
serviço extremamente oscilante. Mas quando Andy recuperava de situações de
perda de ponto anunciada com uma resistência tenaz, era a figura tutelar de
Ivan que se perfilava por detrás de tanta raça, digna das highlands escocesas.
Compacto, de rosto insondável,
focado, sempre focado nas jogadas do seu atleta, vieram-me à memória os tiques
inesquecíveis de Lendl, sobretudo a servir, arrancando uma a uma das suas pestanas.
Veio-me também à memória a imagem inesquecível de um jogo algures no passado,
entre Ivan e um asiático cujo nome se perdeu na minha memória. Numa fase do
encontro, o asiático resolveu surpreender o sempre focado Lendl e não se
lembrou de melhor expediente do que servir lento e por baixo. A imagem de
estupefação espantada no rosto de Lendl é inesquecível. Alguém tinha quebrado
as regras e o único gesto de desaprovação pela perda do ponto foi um dedo
espetado na sua própria cabeça dizendo “este tipo é tolo”.
Na vitória de hoje de Murray
está sobretudo essa persistência do foco, do treino físico implacável, da mão
de ferro de um modelo de treino. Andy reconheceu-o na sua sentida alocução
final. O Reino está em festa, as ilhas recuperaram o nome do seu troféu mais
apetecido. Por ironia das coisas, foi um escocês a consegui-lo e um americano
de origem checa, ou um checo hoje americano a não permitir que a tremideira
viesse ao de cima.
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