domingo, 7 de julho de 2013

ANDY LENDL OU IVAN MURRAY




Acabo de sair do sofá com alguma corrente de ar e deliciar-me com a final de Wimbledon, uma final simbólica, com todo o Reino Unido concentrado na figura e na esperança de Andy Murray em juntar um nome das ilhas ao palmarés da prova depois de um longínquo Fred Perry, ironicamente um escocês. Até Cameron juntou a sua gravata azul ao colorido das bancadas, afinal não abundam para David fatores de comemoração.
Tudo correu bem à esperança britânica, sobretudo porque Murray conseguiu em três sets resolver o problema e evitar que a avassaladora capacidade de resistência sérvia de Djokovic conduzisse o jogo para uma interminável luta de resistência, na qual teria seguramente vantagem.
Murray está mais consistente, sobretudo depois da vitória nos Olímpicos de 2012 face a Federer e essa diferença tem um nome – Ivan Lendl. Hoje, no camarote dedicado à equipa de Murray, com a mãe Judy a dominar com a sua presença austera o clan, a figura imperturbável de Lendl impressionava sempre que Andy tremia, sobretudo num serviço extremamente oscilante. Mas quando Andy recuperava de situações de perda de ponto anunciada com uma resistência tenaz, era a figura tutelar de Ivan que se perfilava por detrás de tanta raça, digna das highlands escocesas.
Compacto, de rosto insondável, focado, sempre focado nas jogadas do seu atleta, vieram-me à memória os tiques inesquecíveis de Lendl, sobretudo a servir, arrancando uma a uma das suas pestanas. Veio-me também à memória a imagem inesquecível de um jogo algures no passado, entre Ivan e um asiático cujo nome se perdeu na minha memória. Numa fase do encontro, o asiático resolveu surpreender o sempre focado Lendl e não se lembrou de melhor expediente do que servir lento e por baixo. A imagem de estupefação espantada no rosto de Lendl é inesquecível. Alguém tinha quebrado as regras e o único gesto de desaprovação pela perda do ponto foi um dedo espetado na sua própria cabeça dizendo “este tipo é tolo”.
Na vitória de hoje de Murray está sobretudo essa persistência do foco, do treino físico implacável, da mão de ferro de um modelo de treino. Andy reconheceu-o na sua sentida alocução final. O Reino está em festa, as ilhas recuperaram o nome do seu troféu mais apetecido. Por ironia das coisas, foi um escocês a consegui-lo e um americano de origem checa, ou um checo hoje americano a não permitir que a tremideira viesse ao de cima.

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