A monumental biografia de
Hirschman de Jeremy Adelman (Worldly
Philosopher) assinalada pelo meu colega de blogue Freire de Sousa tem sido
fonte da minha contínua frustração de não conseguir nos últimos tempos a
libertação de tempo do trabalho profissional para me dedicar aquilo que gosto
verdadeiramente de fazer, tatear a investigação, trabalhar a economia política
que vale a pena integrar nas nossas ferramentas para compreender o mundo de
hoje.
Tenho evoluído lentamente nessa
monumental biografia e por isso uma recensão mais profunda e interpeladora dos
tempos de hoje tem ficado para tempos mais próximos, esperando que as férias
que se aproximam me concedam uns dias de paz e de garantia de leitura mais
pensada e trabalhada.
Por coincidência, na semana
passada, no meu contacto com Rosa d’Aguiar Furtado na apresentação dos ensaios
de Celso Furtado sobre cultura em Serralves, em fim de tarde pouco concorrido
para a importância do evento, falámos da aproximação entre Celso Furtado e
Albert O. Hirschman, demonstrada por uma série de cartas entre os dois
economistas que constam do arquivo que o Centro Internacional Celso Furtado de
Políticas para o Desenvolvimento está a organizar. Les bons esprits se rencontrent toujours. Talvez José Serra, outra
companhia das minhas primeiras incursões sobre este tema, o tenha compreendido.
Como não podia deixar de o ser atendendo à matriz inquieta que os dois
economistas partilhavam, mesmo que os conduzindo a investigações diversas.
Dizia nessa simpática
reunião o Artur Castro Neves com a sua inquestionável finura de espírito que o
tema do futuro será o desenvolvimento, pois tudo está questionado, todos os
modelos de desenvolvimento estão em discussão, o desenvolvimento deixou de ser
o “escândalo” de que falava Jacques Austruy para se transformar na questão
central de todas as sociedades incluindo as rotuladas de desenvolvidas. A minha
vida académica deveria estar a começar.
Aos tempos de hoje e
sobretudo aos nossos neste retângulo sem rumo, interessa muito a perspetiva à
la Hirschman de que no aparentemente
impossível há sempre um possível, há sempre uma combinação de recursos e uma
trajetória aparentemente pouco ortodoxas que podem conduzir a soluções
sustentáveis, saiba-se tirar delas o melhor potencial. Há tempos, na sua morte, o The Economist falava da "dismal science" que os seus Essays on Trespassing tão bem representavam.
É nestes tempos de invenção
de novas combinações de recursos que menos lixo intelectual deve ser consumido
e concedida a prioridade das prioridades a rever os que nos interpelam, porque
sempre se interpelaram nas mais diversificadas situações e experiências de
trabalho e de vida.
P.S.
Hoje no salão nobre do
ministério das Finanças não me apercebi que vagueassem fantasmas ou almas
penadas. Uma comunidade de práticas em torno dos temas da inovação e
internacionalização discutiu abertamente resultados de instrumentos de política
pública sem que o desconchavo político perturbasse a discussão. Como dizia o
meu amigo e antigo colega de docência Mário Rui Silva, será daquela comunidade
de práticas que ali estava que provavelmente dependerá o futuro da programação
2014-2020 nestas matérias. O desconchavo é tão grande que as forças liderantes
nem sequer se apercebem da matéria-prima disponível e do capital de
aprendizagem que o sistema de políticas públicas de inovação e
internacionalização tem vindo a acumular.
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