sábado, 27 de julho de 2013

AS ILUSÕES DAS NARRATIVAS



O tempo é de férias, embora a instabilidade da temperatura não anuncie grandes voos para as quem as faz no Norte. O drama dos tempos de hoje é que as férias não são para todos, cá dentro ou lá fora, restando-nos a solidez do fenómeno turístico no qual a plataforma Porto – Aeroporto de Sá Carneiro começa finalmente a ter expressão nacional.
O tempo anuncia férias também no plano político e a população portuguesa bem delas precisa, não porque as possa fazer generalizadamente, mas porque é a melhor maneira de se ver livre por algum tempo, pelo menos, de tanta boçalidade, impreparação e arrivismo que nos preenchem os écrans.
Mas este tempo de férias marca também a tentativa do governo, agora recauchutado e globalmente mais coerente, de construir uma narrativa diferente para a segunda parte do seu mandato. O discurso parece alinhado e não há alma mais representativa ou apagada deste governo que não fale num novo ciclo, no ciclo do crescimento e do investimento. Mas a ilusão da narrativa subsiste. Como é que é possível com dois anos de governação desta natureza, simular que se faz o reset de tudo, manter a consolidação orçamental ao ritmo pretendido e querer mesmo assim falar de um novo ciclo de crescimento e investimento?
É verdade que o segundo trimestre da atividade económica parece querer dar um ar da sua graça, o que a acontecer não terá a mínima relação com a atividade governativa, mas apenas com a evolução normal do ciclo económico, acaso possa falar-se de uma evolução normal do ciclo. O terceiro trimestre, caracterizado por forte sazonalidade turística, pode oferecer algum ânimo de continuidade a esse eventual despertar da atividade económica. Se assim é, a conveniência seria apoiar essa dinâmica latente, controlando melhor os impactos recessivos da consolidação orçamental para que esse despertar não seja trucidado.
António Pires de Lima, fator de peso político acrescido no centro de racionalidade que o conselho de ministros deveria constituir, não o sendo, já pôs água na fervura, frisando que o crescimento só será possível com retoma do investimento e pelo menos estabilização do consumo privado.
Será que o clima de confiança para a retoma do investimento se obtém com a consolidação orçamental? Alguém parece ter inventado uma nova teoria do investimento que os empresários não conhecem e desdenham.
O tão laureado Miguel Poiares Maduro ainda não conseguiu produzir uma ideia que fosse sobre o que vai significar a nova programação 2014-2020 em termos de reanimação do tal investimento. Fala-se que apenas no segundo semestre de 2014 haverá condições para os primeiros cofinanciamentos. Trágico, não?
Entretanto, o ex-ministro Álvaro pode finalmente fazer o seu horário regrado de trabalhar até às seis da tarde, estando eu curioso se vai ser “espirra canivetes” e nos brindará ou não com um novo livro incorporando a sua desamparada experiência governativa, contando as tais histórias relevantes sobre as rendas do Estado e sobre a sua captura. Regressará o Álvaro ao Canadá para daí espirrar à vontade ou alguma alma especializada na captura das rendas do Estado o presenteará com um Conselho de Administração para curar a constipação e controlar os danos colaterais? Aceitam-se apostas!

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