Ainda estará bem presente na memória de todos a confissão de erro feita por técnicos do FMI quanto à célebre questão dos multiplicadores. Pois acaba de ser colocado no site do Banco de Portugal o estudo “Fiscal Multipliers in a Small Euro Area Economy: how big can they get in crisis times?” (Working Paper 11/2013), de autoria a quatro mãos, em que são estimados vários multiplicadores orçamentais a partir de um modelo adaptado à economia portuguesa e comparando dois cenários alternativos (“tempos normais” vs. “tempos de crise”).
O resultado é significativo. Com efeito, e nos termos de uma evidência apresentada em termos simples (ver gráfico acima, apenas reportado aos valores estimados para o primeiro ano de uma consolidação orçamental), em situações de crise os multiplicadores surgem manifestamente superiores aos obtidos em situações de normalidade e podem mesmo chegar até uma duplicação – ou seja, torna-se ao mesmo tempo claro o efeito recessivo da austeridade e o caráter particularmente gravoso do impacto de cortes no consumo público sobre o crescimento de curto prazo: por cada euro de “poupança”, o PIB poderá cair em 2 euros.
Permitindo ainda concluir que os efeitos recessivos associados a cortes na despesa pública (consumos ou transferências) são superiores aos decorrentes de aumentos de impostos (sobre o trabalho ou sobre o consumo), o trabalho confirma sobretudo o altamente defeituoso pressuposto implícito no modelo em utilização pela Comissão Europeia e pelo Governo português segundo o qual o multiplicador médio seria de apenas 0,8. Deficiências técnicas com consequências concretas, sobretudo para a vida das pessoas – quando lhes é dado o poder de interferir, esses génios da economia matemática revelam-se um bando de irresponsáveis!
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