“Lore” é uma coprodução germânico-australiana realizada por Cate Shortland, que adapta de forma livre um romance da britânica Rachel Seiffert (“The Dark Room” traduzido em Portugal por “A Câmara Escura”) inspirado pela história verídica das suas origens familiares nazis. Sendo que “o livro era sobre a mãe dela e acho que ela tentou protegê-la” e que “o filme ficou mais sexual e um bocado mais violento”.
A 2ª Guerra Mundial surge tratada sob uma perspetiva original, com foco no período imediatamente subsequente ao suicídio de Hitler e nas marcas de desespero e miséria deixadas no país vencido e nos seus habitantes, muitos deles perplexos desconhecedores da terrível verdade do que ia acontecendo.
Ensinada desde pequena a assistir passivamente à guerra e a desprezar os judeus, a adolescente que dá o nome ao filme – extraordinariamente interpretada por Saskia Rosendahl – começa por viver o drama do desaparecimento dos pais nazis e, depois, a saga do atravessamento da Alemanha em busca da casa da avó acompanhada de quatro irmãos mais novos. Assim como que ”um conto de fadas distorcido”, na feliz imagem de Jorge Mourinha, onde o Capuchinho Vermelho que atravessa a floresta para chegar a casa da avozinha tem algo de lobo mau e o alegado lobo mau se apresenta no papel de caçador.
Daí que o mais impressivo acabe por ser a sensível e detalhada abordagem de Shortland e sua equipa – com destaque para a belíssima fotografia e uma deslumbrante banda sonora, sobretudo composta por pianos e violinos – ao modo intenso como Lore é forçada a crescer depressa – “uma entrada brutal na idade adulta” e “um adeus definitivo a uma inocência irrecuperável” – e a reconstruir-se a si própria no quadro daquele ambiente de destruição moral e material. Pouco badalada mas ainda em cartaz, “Lore” é uma obra a não perder…
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