terça-feira, 16 de junho de 2020

PASSAGENS DO TEMPO (VI)



(Há dias revi, já não sei por quantas vezes, o Noites Escaldantes de Lawrence Kasdan. É impossível dissociar o filme do magnetismo que Kathleen Turner imprime à personagem Matty, numa das mais perturbadoras simbioses entre o calor asfixiante de uma cidade e a presença obsessiva de uma mulher. Kathleen Turner recorda-nos nesse filme a força misteriosa e irreprimível de algumas personagens femininas do romance policial americano, com Chandler à frente, a um nível que só Lauren Bacall o tinha conseguido.)

Já há muito que neste blogue não revisitava a minha também obsessiva fixação na passagem do tempo pelas personagens que sempre povoaram o meu imaginário artístico e pena tenho por não ter o talento do saudoso João Bénard da Costa para o descrever. Mas uma notícia do suplemento ICON do El País (link aqui) trouxe-me de volta a Kathleen Turner e à “sua” passagem pelo tempo. Neste caso, com uma revelação que documenta uma relativamente trágica influência desse mesmo tempo. Fiquei a saber que Kathleen Turner entendeu não divulgar uma doença autoimune de que padecia, pelo que inicialmente ocultou essa infelicidade com a imagem de alcoólica que deixou propagar-se pela imprensa americana como forma de adiar a referida revelação. Tragicamente também o alcoolismo acabou por se instalar e a doença degenerativa não ter o rumo tão acelerado como se previa (trágica escolha).

Por mais eloquente que a imagem de hoje se apresente, ficamos a saber que a passagem do tempo do Kathleen Turner não é uma passagem qualquer. Mas por mais voltas que possa dar é a imagem de Matty que perdura e também a sua voz, aliás reforçada com a também memória da voz fatal de Jessica Rabbit.

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