(Há dias revi, já não sei por quantas vezes, o Noites
Escaldantes de Lawrence Kasdan. É impossível dissociar o filme do magnetismo
que Kathleen Turner imprime à personagem Matty, numa das mais perturbadoras
simbioses entre o calor asfixiante de uma cidade e a presença obsessiva de uma
mulher. Kathleen Turner recorda-nos nesse filme a força
misteriosa e irreprimível de algumas personagens femininas do romance policial
americano, com Chandler à frente, a um nível que só Lauren Bacall o tinha
conseguido.)
Já há muito que neste blogue não revisitava a minha também obsessiva
fixação na passagem do tempo pelas personagens que sempre povoaram o meu
imaginário artístico e pena tenho por não ter o talento do saudoso João Bénard
da Costa para o descrever. Mas uma notícia do suplemento ICON do El País
(link aqui) trouxe-me de volta a Kathleen Turner e à “sua” passagem pelo tempo. Neste caso,
com uma revelação que documenta uma relativamente trágica influência desse
mesmo tempo. Fiquei a saber que Kathleen Turner entendeu não divulgar uma
doença autoimune de que padecia, pelo que inicialmente ocultou essa
infelicidade com a imagem de alcoólica que deixou propagar-se pela imprensa
americana como forma de adiar a referida revelação. Tragicamente também o
alcoolismo acabou por se instalar e a doença degenerativa não ter o rumo tão
acelerado como se previa (trágica escolha).
Por mais eloquente que a imagem de hoje se apresente, ficamos a saber que a
passagem do tempo do Kathleen Turner não é uma passagem qualquer. Mas por mais
voltas que possa dar é a imagem de Matty que perdura e também a sua voz, aliás
reforçada com a também memória da voz fatal de Jessica Rabbit.
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