quinta-feira, 11 de junho de 2020

A DECÊNCIA QUE O VENTO LEVOU


Não sei dizê-lo de outra maneira: vivemos num mundo profundamente eivado de cinismo, verdadeiramente à deriva e largamente capturado por dimensões abjetas! A censura (retirada de catálogo) a uma obra-prima do cinema (“E Tudo o Vento Levou”, por Victor Fleming, George Cukor e Sam Wood, 1939) por parte da HBO (e não será caso único nem deixarão de ocorrer outras imitações mais ou menos apressadas), mesmo que depois suavizada pela ideia peregrina de o facto ocorrer para permitir meros toques contextualizadores, revela uma desorientação chocante e um seguidismo inaceitável em relação a valores antes rejeitados/desvalorizados e que de repente se pretendem consagrar por razões de oportunidade. Subitamente, certos ruídos e medos tornaram-se prevalecentes e todos os ensinamentos da História (nas suas partes boas e más) passaram a ser descartáveis para que aqueles valores pudessem aparecer fingidamente como de assunção perene e assim, de algum modo, para que qualquer coisa pareça mudar com vista a que tudo possa ficar realmente na mesma. Ainda que em nome de uma crítica ao racismo e, na melhor das hipóteses, de alguma autocrítica na matéria – e tanta seria e é devida! –, não, não e não!

(Ricardo Martínez, http://www.elmundo.es)

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