terça-feira, 23 de junho de 2020

O PARTICULAR DESASTRE BRITÂNICO



Quem acredita nessas coisas do mau olhado e da bruxaria terá de convir que o primeiro-ministro britânico – que até parecia um sujeito bafejado pela sorte durante aquele vertiginoso período em que minou o poder de Theresa May, conseguiu convocar eleições e ganhá-las e acabou a proclamar o Brexit em cima do gongo – começa a dar sinais fortes de ser um autêntico pé-frio.

Depois de uma gestão miserável do tema coronavírus no seu arranque, a ponto de até ele próprio ter contraído a doença, depois de se ter visto confrontado com uma crise sanitária nacional gravíssima e sem precedentes, depois de vários episódios inconsequentes e bem demonstrativos de uma tendência para o disparate associada a uma notória falta de orientação e foco (incluindo a pouco transparente proteção que concedeu aos abusos do amigo assessor), eis que a economia também bate recordes históricos (veja-se o gráfico de abertura com a brutal quebra de 20% no crescimento de abril ou o seguinte com o registo de uma dívida pública a ultrapassar 100% pela primeira vez desde 1963) e comparativos (as mais recentes estimativas da OCDE colocam o Reino Unido entre os países que sofrerão maiores níveis recessivos neste quadro pandémico).

Para além de tudo isto, qual cereja em cima do bolo, as negociações do Brexit correm mal, ou melhor, o negociador europeu Michel Barnier – devidamente coberto pelas duplas Merkel-Macron e Ursula-Michel – não lhe facilita tanto a vida quanto ele esperaria pudesse acontecer nos termos do passeio por largas avenidas que arrogantemente idealizara. Melhores dias virão, certamente, mas entretanto lá vão crescendo evitáveis adicionais das faturas a pagamento...

(Chris Riddell, http://www.guardian.co.uk)


(Ingram Pinn, http://www.ft.com)

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