sexta-feira, 5 de junho de 2020

O DERBY SE FUE!



(Pensei que fosse obra da pandemia e que um dos símbolos de Santiago de Compostela pudesse reabrir com a “desescalada”. Mas hoje a VOZ de GALICIA deita por terra as minhas esperanças. O DERBY fechou mesmo e tem razões para isso. Para mim Santiago não será mais a mesma.)

O DERBY era aquele tipo de café com declínio anunciado, mas em que a dignidade era mantida sabe-se lá com que custo. Os empregados com o seu fato branco davam ao café um ar de outros tempos, atmosfera facilitada pela sua localização na entrada do casco histórico de Santiago mas em plena Praça Galicia, um dos locais de maior tráfego urbano da cidade galega, bastante próximo do Parlamento galego.

O DERBY era aquele café que frequentava quando chegava muito cedo à Cidade e precisava de fazer horas para as reuniões e que também frequentava quando essas reuniões acabavam cedo e dois dedos de conversa com colegas galegos eram possíveis. Através dos relatos desses colegas, alguns deles profundamente conhecedores e identificados com a cultura das tertúlias e do galeguismo, uma atmosfera de passado vibrante pairava sobre as nossas conversas, apesar de que o movimento do café nos últimos tempos não permitisse facilmente reviver tais ambientes. As cadeiras e as mesas não eram um prodígio de conforto, mas património oblige.

Imaginei que fosse apenas um tempo de espera e que após o controlo da pandemia o DERBY pudesse regressar. Nada disso. A VOZ de GALICIA de hoje acaba de vez com as minhas bondosas suposições. Razões? No fundo, o declínio demográfico. Os 85 anos de Vitoria Domínguez (e 55 anos de descontos para a Segurança Social acrescenta o jornal) e o desinteresse das suas duas filhas pelo negócio justificam o desfecho final.

O ritual de entrada no casco histórico de Santiago não será mais o mesmo e onde será possível seguir o fervilhante ambiente da Praça de Galicia?

Não sei se voltarei tão cedo a Santiago de Compostela e sou mais visitante acidental que peregrino de bastão. Mas sem o Derby é mais uma atmosfera da Cidade que se vai.

Não sei por que razão apeteceu-me relembrar a voz pujante da Laura Pasini, Se Fue, claro (link aqui)

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