A escolha do dia foi simultaneamente previsível e inesperada. Porque havia que garantir que Centeno ainda fosse visto como parte importante da conceção do Orçamento Suplementar, um sinal não despiciendo de continuidade, e também que Centeno não cometesse o erro primário de se despedir do Eurogrupo sem ter dado uma nota prévia das suas intenções aos portugueses. Mas, ao esticar-se a decisão de desenlace por um período demasiado longo – quando se sabia que Centeno queria sair e que já não era parte da solução e quando se deveria reconhecer que a sua eventual ida para o Banco de Portugal merecia ser objeto de um anúncio mais estratégico e temporalmente distanciado – quase chegou a parecer que a surpresa ia ser outra ao invés da não surpresa que aconteceu.
De referir ainda que, no momento em que estamos, o filme está longe de se ter desenrolado até ao final e, do mesmo modo que houve várias cenas passadas que ficaram por esclarecer (provavelmente para sempre), não é menos certo que ainda podem surgir improváveis cenas finais. Assim, limito-me por ora a considerar que há duas coisas que são certas, na circunstância atual: por um lado, que Centeno é, de longe, o melhor nome para o Banco de Portugal (por ser aquele que mais garantias dá de competência, equilíbrio e prestígio internacional) e, por outro lado, que é absolutamente intolerável que este País e as suas forças políticas queiram legislar ad hominem e em função de conjunturas, ao invés de o fazerem em função de princípios sólidos e ponderados em devido tempo e na devida conta.
Por fim, o lugar e a prestação propriamente ditos. Uma matéria em que o coro de elogios resultadistas poderá ter pecado por algum exagero – estes publicitários... –, acabando por vir a ficar algo longe do que a história julgará (não só mas também pelo “abandono do barco”), isto para além da desajeitada presença pública de Centeno e sem prejuízo dos muitos méritos decorrentes da sua gestão económico-financeira e política (designadamente em termos de imagem internacional do País e correlativo impacto nos mercados). Quanto a João Leão, o novo ministro, tenho as minhas boas e diversas razões para preferir o silêncio e, assim, dando tempo ao tempo, esperar que seja o tempo a revelar o que estiver destinado a vir à tona – desejo-lhe boa sorte!
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