segunda-feira, 15 de junho de 2020

A NORMALIDADE GALEGA



(Esta última semana tenho colaborado com o meu amigo Luís Dominguéz, catedrático da Universidade de Vigo e titular da Cátedra Jean Monnet desta universidade, na redação do draft que enquadrará o Plano de Investimentos Conjunto Galiza-Norte de Portugal para o período de programação 2021-2027. Neste contexto de forte proximidade à região vizinha, que avisto da minha varanda de Seixas quando dela posso desfrutar, é com prazer que saúdo o facto de ter sido a primeira região espanhola a entrar no regime de normalidade plena após os estados de exceção impostos pela pandemia.)

Se percorrer retrospetivamente a minha vida profissional e também académica, seja mental e nostalgicamente, seja organizando os resquícios materiais e de publicações desse já longo trabalho, dou sempre com a presença da Galiza e de reflexões sobre as perspetivas da cooperação ou a interpretação combinada da evolução estrutural das duas regiões. Nos últimos tempos, os temas do urbanismo e da economia estrutural têm estado um pouco ausentes e por isso têm ido raros senão inexistentes os meus contactos com os amigos Anxel Viña (gestor da Oficina y Planeamiento, na Corunha) e o Catedrático Julio Sequeiros Tizón (Universidade da Corunha). A relação com o Luís Dominguéz no âmbito do Eixo Atlântico ou fora dele e com o Professor Fernando Laxe (também da Universidade da Corunha e uma personalidade incontornável do PSOE galego) têm dominado os últimos tempos, prolongando uma tradição que me têm proporcionado.

A Galiza retoma hoje a normalidade depois da incidência dos sucessivos “estados de alarme” e fá-lo por preencher todas as condições estabelecidas pelo governo espanhol para poder assumir essa normalidade. Não se trata de nenhum favor especial prestado ao governo regional galego. Num contexto de fortíssima crispação entre o governo de Madrid e as comunidades autónomas, a relação em ambiente COVID da Galiza com o governo espanhol foi clara e sem grande crispação, tanto mais de salientar quanto mais se sabe que as eleições regionais estão aí à porta (mês de julho) e que o PSOE galego aspiraria a retirar a maioria absoluta ao governo de Nuñez Feijoo.

A Galiza é um caso curioso, suscitando explicações para o relativo êxito com que geriu a pandemia em termos algo similares aos em regra utilizados para Portugal. O caráter periférico da região teria tido alguma influência neste caso positiva pois teria beneficiado do diferimento com que os casos importados se fizeram sentir no território galego. E até alguma ironia surgiu entre os comentários menos laudatórios da ação do governo regional galego mencionando a proteção divina do apóstolo.

Ora, em meu entender, e reconhecendo que esse facto anula por completo a possibilidade do PSOE galego poder comprometer a nova maioria absoluta do PP na Galiza, a gestão política e sanitária da pandemia pelo governo regional galego foi de uma eficácia e sobriedade apreciáveis. Para além disso, o sistema público regional de saúde revelou um desempenho bem acima do esperado. Para isso contribuiu e de que maneira o facto do PP galego não comungar da volatilidade em que o PP de Madrid está mergulhado. Basta em contraponto seguir com atenção a gestão política da pandemia pelo governo local de Madrid (coligação PP-Ciudadanos) para se compreenderem as diferenças. Claro que a gestão política de Feijoo é largamente beneficiada pela fragmentação política à esquerda do PSOE, depois do completo eclipse político das Mareas, aliás no seguimento dos impreparados e algo ruinosos exemplos de gestão municipal que aquela força política protagonizou. Mais ainda, a irrelevância do VOX na região libertou o PP galego dos trejeitos de reação mimética ao discurso da extrema-direita. Podemos como é óbvio buscar toda esta série de argumentos. Mas o que cumpre reconhecer é a existência de uma gestão política regional competente face à dimensão pandémica do desafio e isso vai constituir um poderoso argumento de confiança eleitoral que, desgraçadamente, o PSOE galego não poderá invocar a partir da gestão política do governo de Espanha. Valença

É a vida.

E é bem melhor ter a perceção quando assomo à varanda de Seixas que, do lado de lá e ali em frente, as coisas estão calmas e que a abertura da fronteira no dia 1 de julho não vai ser nenhum quebra-cabeças a perturbar a acalmia sanitária que se vive por Valença, Vila Nova de Cerveira e Caminha.

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