(Esta última semana tenho colaborado com o meu amigo Luís
Dominguéz, catedrático da Universidade de Vigo e titular da Cátedra Jean Monnet
desta universidade, na redação do draft que enquadrará o Plano de Investimentos
Conjunto Galiza-Norte de Portugal para o período de programação 2021-2027. Neste contexto de forte proximidade à região vizinha, que avisto da minha
varanda de Seixas quando dela posso desfrutar, é com prazer que saúdo o facto
de ter sido a primeira região espanhola a entrar no regime de normalidade plena
após os estados de exceção impostos pela pandemia.)
Se percorrer retrospetivamente a minha vida profissional e também académica,
seja mental e nostalgicamente, seja organizando os resquícios materiais e de
publicações desse já longo trabalho, dou sempre com a presença da Galiza e de reflexões
sobre as perspetivas da cooperação ou a interpretação combinada da evolução
estrutural das duas regiões. Nos últimos tempos, os temas do urbanismo e da
economia estrutural têm estado um pouco ausentes e por isso têm ido raros senão
inexistentes os meus contactos com os amigos Anxel Viña (gestor da Oficina y
Planeamiento, na Corunha) e o Catedrático Julio Sequeiros Tizón (Universidade
da Corunha). A relação com o Luís Dominguéz no âmbito do Eixo Atlântico ou fora
dele e com o Professor Fernando Laxe (também da Universidade da Corunha e uma personalidade
incontornável do PSOE galego) têm dominado os últimos tempos, prolongando uma
tradição que me têm proporcionado.
A Galiza retoma hoje a normalidade depois da incidência dos sucessivos “estados
de alarme” e fá-lo por preencher todas as condições estabelecidas pelo governo
espanhol para poder assumir essa normalidade. Não se trata de nenhum favor
especial prestado ao governo regional galego. Num contexto de fortíssima
crispação entre o governo de Madrid e as comunidades autónomas, a relação em
ambiente COVID da Galiza com o governo espanhol foi clara e sem grande
crispação, tanto mais de salientar quanto mais se sabe que as eleições
regionais estão aí à porta (mês de julho) e que o PSOE galego aspiraria a retirar
a maioria absoluta ao governo de Nuñez Feijoo.
A Galiza é um caso curioso, suscitando explicações para o relativo êxito
com que geriu a pandemia em termos algo similares aos em regra utilizados para
Portugal. O caráter periférico da região teria tido alguma influência neste
caso positiva pois teria beneficiado do diferimento com que os casos importados
se fizeram sentir no território galego. E até alguma ironia surgiu entre os
comentários menos laudatórios da ação do governo regional galego mencionando a
proteção divina do apóstolo.
Ora, em meu entender, e reconhecendo que esse facto anula por completo a
possibilidade do PSOE galego poder comprometer a nova maioria absoluta do PP na
Galiza, a gestão política e sanitária da pandemia pelo governo regional galego
foi de uma eficácia e sobriedade apreciáveis. Para além disso, o sistema
público regional de saúde revelou um desempenho bem acima do esperado. Para
isso contribuiu e de que maneira o facto do PP galego não comungar da volatilidade
em que o PP de Madrid está mergulhado. Basta em contraponto seguir com atenção
a gestão política da pandemia pelo governo local de Madrid (coligação PP-Ciudadanos)
para se compreenderem as diferenças. Claro que a gestão política de Feijoo é
largamente beneficiada pela fragmentação política à esquerda do PSOE, depois do
completo eclipse político das Mareas, aliás no seguimento dos impreparados e
algo ruinosos exemplos de gestão municipal que aquela força política
protagonizou. Mais ainda, a irrelevância do VOX na região libertou o PP galego
dos trejeitos de reação mimética ao discurso da extrema-direita. Podemos como é
óbvio buscar toda esta série de argumentos. Mas o que cumpre reconhecer é a
existência de uma gestão política regional competente face à dimensão pandémica
do desafio e isso vai constituir um poderoso argumento de confiança eleitoral
que, desgraçadamente, o PSOE galego não poderá invocar a partir da gestão
política do governo de Espanha. Valença
É a vida.
E é bem melhor ter a perceção quando assomo à varanda de Seixas que, do
lado de lá e ali em frente, as coisas estão calmas e que a abertura da
fronteira no dia 1 de julho não vai ser nenhum quebra-cabeças a perturbar a acalmia
sanitária que se vive por Valença, Vila Nova de Cerveira e Caminha.
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