quarta-feira, 21 de dezembro de 2022

DONA NOBIS PACEM

 


(Foi ontem de manhã na Antena 2 que o Paulo Alves Guerra, em entrevista com o António Jorge Pacheco, diretor artístico que se vai aguentando, me alertou para os dois concertos de Natal na Casa da Música, relembrando-me que era essencial retornar à Casa, depois deste período atribulado de confinamentos, trabalho e muito trabalho. Para a noite de terça feira, restavam lugares no Coro, uma outra maneira de ver a sala e a própria orquestra, embora o desenrolar do espetáculo tivesse mostrado alguns lugares não ocupados. E, na preparação para o dia mais curto do ano, ou se quiserem para a noite mais longa do ano em que Zelensky voa para os Estados Unidos, nada melhor do que passar o resto da noite regressando ao aconchego da Casa.

 

O programa era aliciante. A Orquestra Barroca da Casa da Música, dirigida por Lawrence Cummings, o Coro da Casa e o Coro Infantil, anunciando alguma surpresa, apresentavam a célebre obra de Haydn que já ouvira antes, mas que a memória não me elucida sobre a gravação em causa, a Missa de Santa Cecília de Santa Cecília, padroeira dos músicos, reescrita de memória pelo autor após a perda do manuscrito num incêndio.

A Orquestra Barroca e o Coro da Casa da Música estão na sua melhor forma e os quase 70 minutos da Missa Cellensis são um desafio de grande envergadura para o testar. Cummings é um maestro que combina harmoniosamente a sobriedade e a exuberância, transmitindo um entusiasmo de direção que, curiosamente, é mais fácil sentir a partir do Coro do que da sala Suggia propriamente dita. Tal como o programa o referia, pressente-se na obra de Haydn as transformações de linguagem musical observadas na segunda metade do século XVIII.

António Jorge Pacheco anunciara na Antena 2 que os Concertos de Natal têm sempre uma surpresa e que até podia nevar na Casa da Música.

Assim foi. Depois do glorioso embate com a Missa de Haydn, o programa reservava duas canções de Natal para a Orquestra Barroca com o Coro Infantil, que souberam a pouco, embora com o efeito dos pequenos flocos de neve que caíam da parte superior do palco criassem um sortilégio. De facto, não é fácil depois do tremendo final da Missa sobretudo depois do fôlego do Benedictus manter o clima e com o Coro Infantil alongado na parte frontal do palco e voltado obviamente para a Sala não é fácil do Coro seguir a sonoridade daquelas vozes imaculadas. Fica para a próxima.

Independentemente das crenças de cada um, na época por que passamos, preparar o solstício com o Dona Nobis Pacem (Dá-nos a paz)  e a riqueza de toda aquela musicalidade sabe bem a qualquer um, por mais agnóstico, ateu ou simplesmente um eterno cético que ele ou ela sejam.

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