(Na minha qualidade de membro do Conselho Científico do Centro de Relações Laborais, link aqui, que apoia os parceiros sociais, Estado, confederações empresariais e sindicatos, e que publica regularmente Relatórios sobre o Emprego e Mercado de Trabalho, a sempre entusiasta Dra. Paula Agapito convidou-me a moderar um painel centrado na discussão de um trabalho elaborado pela Universidade do Minho, em que pontificam dois Amigos próximos, os Professores Francisco Carballo Cruz e João Cerejeira. O trabalho chama-se “Economia Verde e a Evolução do Mercado de Trabalho em Portugal e tem para além da participação daqueles dois Amigos os nomes da Rita Sousa e do Sergehy Volozhenin e o painel é precedido pela apresentação do estudo. A sessão tem lugar, amanhã de tarde, nas instalações do muito conhecido CITEFORMA.)
A evolução do mercado de trabalho induzida pela chamada “economia verde”, e tenho de protestar pois há uma economia verde, uma economia azul em torno dos recursos do Mar, mas não há propriamente uma “economia vermelha”[1], irá representar um elemento crucial na formação das perceções associadas aos efeitos de duas transições que estão no coração desta matéria – a transição energética e a transição climática. O assunto interessa-me bastante, pois entronca num tema mais geral, que é o da perceção da inovação em geral e dos efeitos que decorrem da sua introdução na economia. Essas perceções são frequentemente cruciais para condicionar, inibir ou estimular as transformações de cálculo económico de investimento e poupança na economia. O mesmo se passa com a economia verde e tal como na inovação em geral, há sempre uma nebulosa que se forma e que consiste na dificuldade de distinguir o que são ocupações e empregos associados diretamente às novas atividades seja de inovação, seja de economia verde e os efeitos que se manifestam nas atividades existentes geradas pela inovação ou pelo “greening” (“esverdeamento”?) que se abate sobre as mesmas.
Daí o meu título de hoje – economia verde ou esverdeamento da economia? Esta questão é relevante enquanto o “filme” se desenrola, isto é, enquanto as transformações ou a “transição” como agora se diz estão em pleno desenvolvimento. Após elas serem consumadas, o que interessam são os saldos líquidos. Mas para quem vive os processos por dentro, os valores absolutos dos empregos que podem ser destruídos, os empregos que para serem mantidos terão de suportar a adaptação de competências e os empregos que assumirão a nova onda não são entidades abstratas, pertencem ou são exercidos por pessoas concretas, mulheres e homens, e o tempo longo da economia tende a ignorar ou a desvalorizar o sofrimento da adaptação.
A equipa da UM que elaborou o estudo está particularmente ciente desta temática e opta por uma metodologia divulgada por uma organização americana, a O*NET (com conversão para o Sistema de Classificação Portuguesa das Profissões a 4 dígitos), que permite distinguir (e quantificar) três tipos de ocupações:
· Ocupações com procura aumentada;
· Ocupações com competências alteradas;
· Ocupações novas e emergentes.
A estimativa a que o grupo da UM chega identifica no ano de 2019 um peso dos empregos verdes de 13,2% do emprego total, repartido do seguinte modo: 5,7% em profissões com procura aumentada, 5,9% em profissões com exigência de mudança de competências e apenas 1,6% em profissões novas ou emergentes. Estes valores parecem-me estar em conformidade com o estádio da transição energética e climática em Portugal, à qual não é estranho também a vontade política manifestada no Roteiro para a Neutralidade Carbónica.
O estudo fornece ainda dados adicionais interessantes para situar as perturbações de adaptação induzidas pelo “esverdeamento” da economia. Assim, por exemplo, segundo os cálculos dos autores, a reconversão de competências será mais saliente no setor H – Transportes e Armazenagem (à cabeça com 16% do emprego envolvido), o setor E – Captação, tratamento e distribuição de água; saneamento, gestão de resíduos e despoluição com 15% dos empregos e o setor M – Atividades de consultoria, científicas, técnicas e similares com 10% do emprego.
Ideias nacionais a merecer alguma reflexão são, por exemplo, as seguintes:
- A percentagem de homens empregados em ocupações verdes (18,7%) triplica praticamente a das mulheres;
- Embora em queda, os empregos verdes são ocupados por trabalhadores mais velhos;
- Quase 14% dos trabalhadores com formação superior estão em empregos verdes;
- A proporção em empregos verdes aumenta monotonamente com a remuneração salarial;
- Curiosamente, o grupo profissional com maior percentagem de empregos verdes é o dos representantes do poder legislativo e de orgâos executivos, em grande medida com exigências de alteração de competências;
- As empresas que melhor protagonizam o emprego verde tendem a apresentar maior dimensão e a ter mais capital estrangeiro.
Ao debate, no CITEFORMA, amanhã à tarde.
[1] Economia vermelha sugere alertas de degradação macroeconómica ou então a economia de “red districts”, por conseguinte com uma notação bem menos digna do que a verde ou a azul.
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