(O futebol tem destas coisas. Uma seleção que se apresentara até agora de modo irrepreensível na sua organização global e defensiva não sei porque carga de água se desmoronou perante uma seleção portuguesa que parece ter levado a sério o ter deixado no banco o seu jogador mais mediático. Quando um Fernando Santos dá um banho tático a um selecionador do qual nem me atrevo a soletrar o nome alguma coisa se não está errada, está pelo menos atravessada por mistérios insondáveis. Pelo que pude apurar a necessidade de compensar a falta de um defesa direito impossibilitado por questões físicas de dar o seu concurso ao relógio suíço foi aproveitada para apostar num outro modelo de organização defensiva pelo qual os bravos lusos passaram como bem quiseram e a sua criatividade determinou. O Santos tem destas coisas, por vezes, raras vezes, assume-se e decidiu que o “affair” Ronaldo tinha ido longe de mais. Apostou, ganhou em toda a linha e até se deu ao luxo de um ar magnânimo e oferecer a Cristiano 15 a 20 minutos de possível glória. Mas Gonçalo Ramos já tinha saído com um “hat-trick”, tinha marcado o jogo culminando uma exibição coletiva de alto nível, com Pepe a comandar toda aquela rapaziada. Um fora de jogo declarado tirou a Cristiano essa possibilidade e, se não me engano, o seu calvário começou neste mundial.
O dia de hoje do Mundial teve momentos simbólicos de um significado tremendo. A vitória de Marrocos sobre uma Espanha que partiu para as grandes penalidades já derrotada transportou consigo uma onda de reconhecimento que nas ruas da diáspora marroquina, por essa Europa fora, as imagens de Barcelona eram impressionantes, foi comemorada com uma alegria reparadora. A seleção marroquina é talvez a mais surpreendente de todas as seleções emergentes e não favoritas e a Ibéria pode ficar aos seus pés se os não conseguirmos derrotar. A qualidade de algumas das suas individualidades é notável e a organização como equipa já não é de uma seleção emergente. Antevejo um embate para sábado daqueles que tanto nos pode destroçar, como nos catapultar para a final.
Continuo a não entender por que razão Portugal se agiganta em certos momentos e produz jogadas que são uma verdadeira arte no relvado, como hoje aconteceu com o quarto golo de Raphael Guerreiro, e noutras ocasiões parece arrastar-se, vergada a uma memória de perda histórica e incapaz de segurar um resultado. O treinador é o mesmo para o bem e para o mal, os jogadores também, creio que as botas idem, o que explica então estas oscilações?
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