sábado, 24 de dezembro de 2022

FELIZ NATAL

 


(À boleia de uma imagem colocada pelo meu filho Hugo no seu post de Feliz Natal no Facebook e depois de, no último dos momentos, antes do sossego necessário para preparar a Ceia de Natal, ter despachado o último relatório de avaliação de 2022, isto é que foi um mês intenso, revejo-me no significado da pequena casa que emerge na imagem escolhida. Como urbano inveterado, nunca tive uma experiência de Natal passado no recôndito mais profundo do rural. O mais próximo de uma experiência desse tipo foram dois ou poucos anos em Seixas, em que a baixa concentração urbana nos permite uma outra perceção da luz implícita que o Natal nos traz. Mas a família a aumentar e a necessidade de espaço de acomodação cedo nos fizeram regressar ao Natal urbano, adaptando-nos às implicações da geometria variável em que regra geral as famílias organizam a Ceia, para estar ora com uns, ora com outros e assim proporcionar alguma equidade no tratamento e no convívio familiar a todos os ramos.

 

Este ano, pelo calendário, traz-me uma daquelas Ceias em que a família mais chegada não pode estar toda junta, sobretudo filhos e netos, uma parte zarpou em direção ao Algarve para respeitar a tal regra de equidade. Este bicho do buraco continua a lidar mal com convívios e Ceias fora do seu refúgio natural de proteção, mas como dizia na parte final do meu último post a idade avança e o grau de autonomia para permanecer contra a força das circunstâncias nesse refúgio já não é o que era. Até porque preparar uma Ceia com todos os matadores é cada vez mais um empreendimento de grande escala e os não cozinheiros como eu ficam sempre com má consciência de não participar suficientemente no esforço para a organizar.

Adiante, não vale a pena lutar contra a inexorabilidade do tempo.

Eterno poço de contradições mais ou menos racionalizadas, divido-me sempre entre reflexões natalícias como as que Tolentino Mendonça nos interpela e o prazer de comprar e dar presentes, provocando no pós-Ceia a mais caótica das distribuições.

Ambas podem justificar-se após uma sequência temporal terrível em que, após a saída do fosso da crise das dívidas soberanas e dos tempos daqueles que quiseram utilizar o ajustamento da Troika limpar a sociedade portuguesa do que eles consideram empecilhos para a mudança, apanhámos com uma pandemia e o mergulho em confinamentos prolongados que parecem pertencer já ao passado distante (como o tempo ilude!) e logo em cima com uma guerra na Europa e novas disrupções económicas e sociais do nosso quotidiano para não nos deixar estabilizar a esperança e os projetos de futuro.

Valha-nos que a democracia parece ter resistido aos que, utilizando a liberdade que ela concede, têm insidiosamente assentado bases para a sua destruição.

Feliz Natal para todos, mais ou menos urbano, seguramente com chuva e não com neve, mas mesmo assim com a esperança de tempos melhores.

 

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