quarta-feira, 28 de dezembro de 2022

E LÁ SE FOI A ALEXANDRA DA SOBRANCELHA EMPINADA …

 


(Desta vez a minha intuição estava certa. A demissão da Secretária de Estado do Tesouro era uma crónica anunciada, uma espécie de corta-fogo para evitar males piores, mas fica a estranha sensação de que isto não fica por aqui, porque a nebulosidade é espessa e os radares podem não estar a funcionar, logo problemas na navegação, neste caso política. A TAP é, tudo indica, um castelo de cartas com fragilidades por todos os cantos da montagem e abre-se um campo fértil para a exploração de mistérios para todos os gostos e feitios. O inenarrável José Gomes Ferreira, há nomes que não deveriam ser beliscados e este não merecia ser conspurcado, lançou na SIC há pouco as hostilidades, associando a saída da administração da TAP de Alexandra Reis não a uma simples mudança de acionistas, mas à mal contada história das compras em leasing de aviões, supostamente diz ele, 20% acima do valor de mercado de operações dessa natureza. Como nós gostamos de chafurdar na lama e quão grande é a tentação para a criar!

 

A saída de Alexandra Reis determinada por Fernando Medina é uma espécie de mal menor inevitável, mas é também uma decisão defensiva do próprio Ministro das Finanças, porque o assunto queima e queima bem e um putativo e indicado sucessor de Costa não pode ser despachado em fogo lento.

Em contrapartida, bem chamuscado e já a passar o ponto em que o assado se torna não comestível, está o ministro que tutela a TAP, Pedro Nuno Santos, literalmente a apanhar bonés ou bolas fora em toda esta operação. Sabe-se lá se sabia ou não da controversa operação de saída da empresa em situação económica difícil, mas tanto se nos dá se sabia ou não. Em qualquer caso, a situação não se recomenda, sobretudo porque foi ainda no âmbito da sua tutela que a Alexandra de sobrancelha empinada foi recrutada para uma empresa também por si politicamente tutelada. Tenho para mim que os tempos da impetuosidade na política já foram e que continuar a admitir que o Ministro agora sob todas as interrogações poderá ser primeiro-Ministro deste País padece de um romantismo doentio que confundir com a Esquerda e seus valores modernos é pior do que ingenuidade saudosista.

Deste folhetim, que estou seguro terá novos e escaldantes episódios, desnudando personagens e situações, retiro uma interpretação não menos preocupante, que coloco segundo uma dicotomia para mais fácil compreensão: ou o raio (ou diâmetro?) da escolha de governantes está a estreitar-se para lá do admissível, o que explicaria a redução dos critérios de exigência, ou então essa escolha processa-se com a mais impreparada incompetência. Já não vou falar da degenerescência dos níveis da ética política de quem é convidado e aceita sem um auto-escrutínio rigoroso da vida mais recente – se meteu a mão ao prato em situação menos clara, se lesou o fisco com sofisticação de planeamento fiscal ou simplesmente arriscando para lá dos limites aceitáveis, se se insinuou indevidamente junto de alguém ou assediou alguma alma ingénua e pura, se comercializou influências ou coisas do género, só para falar das mais importantes.

Proponho mesmo que, sob a iniciativa de Carlos César, o PS conceba um breviário para auto-escrutínio, sem necessidade do uso do silício ou colocação do avental, destinado a ser utilizado rigorosamente depois de receber um convite para o Governo e antes de dar a resposta definitiva. Ficaríamos todos mais descansados e o primeiro-Ministro mais confiante.

E depois não digam que este blogue não fornece conselhos práticos de qualidade.

Nota final:

Não é para embirrar com o ministro Pedro Nuno Santos, mas na justa medida em que tutela a CP, devo dizer que o Alfa ultrapassa todos os limites da instabilidade. Eu sei que estou mais velho e por isso o equilíbrio tende a ressentir-se, mas ir, em plena viagem e à velocidade não estonteante a que o comboio circula, ao bar ou ao quarto banho é um exercício preocupante e perigoso. Dispenso-me de explicitar os riscos da ida à casa de banho e ainda não me aconteceu cair no colo de alguma brasa na coxia. A combinação entre o material circulante a precisar de novo de manutenção e o estado da infraestrutura explica em meu modesto entender a instabilidade. Bem mais calma a viagem no renovado suburbano que frequentei há dias de Aveiro para o Porto, o que conta a favor de PNS.


 

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