E lá ficamos reduzidos a um Argentina-Croácia mais um França-Marrocos, que o mesmo é dizer ― se a lógica não for uma batata, o que às vezes acontece ― a uma final entre argentinos e franceses. Pelo meu lado, sobretudo vista a forma guerreira com que croatas e marroquinos eliminaram os dois irmãos convencidos que falam a língua portuguesa (e, aqueles últimos, também espanhóis e belgas), sempre preferia uma inédita e surpreendente final entre os dois patinhos feios ainda em prova, Croácia e Marrocos.
No que toca à derrota portuguesa, fico-me por um recomendável silêncio. Quer porque tudo e o seu contrário já foi dito e dissecado, quer porque iria certamente ser mais um a mandar achas para uma fogueira devidamente atiçada (como escreve José Manuel Ribeiro no “Público” de hoje, “Vão desfilar culpados e vítimas para que todos possam compensar a vitória perdida pelo prazer superior de descarregar os fígados. Fernando Santos devia ter atacado mais, defendido mais, jogado com Ronaldo, sem Ronaldo, com a Georgina a extremo-esquerdo, a dona Dolores a interior direito, etc. Vamos descobrir que X e Y não se falavam; que havia jogos de sueca dez minutos para lá da hora do recolher, e que o João Mário tinha acessos de cólera por não haver iogurtes de kiwi no pequeno-almoço”), quer essencialmente porque a situação só foi lamentável na medida em que nos continuamos a convencer, como quase sempre, que somos capazes de ser os melhores do mundo e, no caso, que íamos conseguir demonstrá-lo em campo.
Em suma, ficarmo-nos pelos Quartos não apenas não deslustra como corresponde a um posicionamento bem acima da nossa habitual mediania efetiva em quase todos os planos, suplantando ou igualando potências de bem maior dimensão (da Alemanha à Espanha e à Bélgica, por um lado, dos Países Baixos ao Brasil e à Inglaterra, por outro). E, convenhamos, a nossa seleção atual não é composta por foras de série em nenhum dos setores, antes sim por um conjunto significativo de jogadores de qualidade que apresentam tanto de bom ou muito bom quanto de irregular na respetiva prestação (do guarda-redes aos defesas laterais e centrais, dos médios aos avançados, dos interiores aos extremos digam-me um, um só, que tenha estado em plano elevado e sem mácula nos vários jogos efetuados e que assim possa merecer constar de um melhor onze do Mundial...). Todavia, e dito isso, não deixa de ser também verdade que algo de mais bem-sucedido poderia ter sido ainda alcançado se tivéssemos podido contar com o acompanhamento de uma melhor gestão e liderança, assim como com uma dose mais bem combinada de inteligência e vontade no decurso da execução em concreto. É o que se me apraz por ora...
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