“São assuntos que não interessam aos portugueses”, afirmou Costa na sua recente entrevista à “Visão” a propósito dos “casos e casinhos” em que tem estado envolvido o seu atual terceiro governo. E tem razão. Só que não a tem tanto pela irrelevância que pessoalmente quer atribuir aos factos em causa, a ponto de declarar que não o fazem perder um segundo do seu precioso tempo, mas bem mais pelo enorme grau de desvalorização e desdém com que uma larga e crescente maioria dos cidadãos vai olhando para a classe política no poder (e, de algum modo também, na oposição). E esse é o problema central de uma sociedade portuguesa enquistada na indiferença e que apenas ainda não assumiu até às últimas consequências uma ligação essencial entre o seu voto (ou a sua recusa do mesmo) e aquele seu desligamento em relação a preocupações com os mais vulneráveis e que mais sofrem, às perversões de quem comanda e à falta de dinâmicas coletivas em que estamos atolados. Eis o segredo da maioria absoluta, que Costa agita como um troféu pessoal e com uma sensação de infalibilidade (hubris, chamou-lhe o amigo Pedro Siza Vieira), mas a que os portugueses já não atribuem uma significância que não seja a do “eles” estarem encarregados de ir tomando conta disto (porque assim tem de ser, é da vida e não vale muito a pena contrariar, até por clara ausência de alternativa credível) enquanto “nós”, cada um de nós (eu e os meus), tenta tratar da sua vida. Até um dia! Porque é diminuta a distância entre aquela indiferença e a irrupção na cena política de elementos nocivos e de alta perigosidade social, o que já vai sendo demonstrado pelo ganho de aceitação do ideário populista em que navega o “Chega” (aliás com a notória cumplicidade da tática de preservação do poder do Partido Socialista)...
Dito isto, que dizer de Alexandra Reis? Que a senhora deve ser uma sumidade em matéria de gestão, que a dita se incompatibilizou com Christine, que Pedro Nuno anuiu a que corressem com ela da TAP e se desinteressou dos detalhes, que Christine tratou com a única determinante de a chutar para longe rapidamente, que a negociação dos números de rescisão assim redundou num aspeto secundário, que Pedro Nuno logo terá pensado que tinha ali um ás para colocar à frente da NAV, que nada de publicamente marcante teria acontecido (o que é aflitivo!) se tudo tivesse ficado por aqui, que Medina aproveitou a remodelação provocada por Miguel Alves para mexer na sua equipa das Finanças e terá aceite a sugestão da mulher (Stéphanie Silva, ex-diretora jurídica da TAP) de que optasse pela amiga e excelente Alexandra para a ocupação de um lugar, que Alexandra aceitou a ideia de ir para o Governo por razões muito próprias de carreira e porque tinha a conta bancária confortavelmente recheada mas também porque o Tesouro lhe concedia a oportunidade de voltar a defrontar-se com Christine em condições novas e mais favoráveis em termos de relação de forças. No meio disto tudo, houve e continua a haver muito ruído e bastante escassez de esclarecimento, mas duas coisas parecem certas (abstraindo do Presidente da República, cujo papel ao longo destes dias, quase de hora em hora, não foi o de um garante ético de um são funcionamento democrático mas muito mais o de um animador perverso e venenoso, ora escondido num “há quem pense” ora forçando o mal-estar social): que algo está definitivamente mal no exercício das tutelas de empresas ou agências públicas (incluindo as escolhas dos convidados para os cargos em apreço) por parte de políticos inexperientes e pouco responsáveis e que o primeiro-ministro, no seu afã de gerir o dia-a-dia, a imagem, o foco europeu e a sucessão partidária, está a deixar-se capturar irremediavelmente pela teia inepta e facilitista que montou e de que já dificilmente se libertará. Não quero concluir sem sublinhar ainda a importância diferenciadora que decorre da presença de uma imprensa livre e eficazmente competente.
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