Emmanuel Macron está a tornar-se cada vez mais um outlier relativamente desgovernado no seio da União Europeia. Sempre obcecado por conduzir uma diplomacia paralela (o que alguns críticos gostam de designar por shuttle diplomacy), uma ação que lhe dá a ilusão de comandar a Europa e de servir a afirmação de uma leitura estratégica que proclama como europeia (mas que é, em boa verdade, bem mais franco-francesa do que qualquer outra coisa), Macron não para de bulir em infindáveis direções de invariável sentido pessoal e nacional: seja na recente visita aos EUA, onde se decidiu a ir confrontar por sua própria conta as medidas protecionistas de Biden, sempre aparecendo a assumir-se como representante da União; seja na sua defesa da ideia de que sejam concedidas garantias a Moscovo em matéria de segurança (já meses atrás apostava em ser o interlocutor de Putin), suscitando a revolta de muitos dos parceiros europeus que preferencialmente apostam no isolamento de Putin; seja na instabilização que recorrentemente tem promovido no chamado eixo franco-alemão, dando lugar a notórias manifestações de desconforto e irritação por parte de Scholz; seja no seu posicionamento em relação ao tratamento de múltiplas questões internas europeias (na atual conjuntura, têm estado muito especialmente em foco diversas dimensões da política energética, mas não só essas se nos lembrarmos do acolhimento dos refugiados ou da revisão do pacto de estabilidade), nunca deixando de tentar impor uma dominante consideração do que mais releva para os interesses franceses adquiridos; seja, ainda, nas suas incursões frequentemente contraditórias por variados solos asiáticos, americanos ou africanos e por aí fora.
Claro que Macron, sendo um agente político hábil e inteligente, aposta também em evitar uma lógica de forçar até últimas consequências e procura, assim, lograr estabelecer com os seus pares as pontes necessárias para uma geometria variável de consensos (necessariamente pouco eficaz e nada harmoniosa) ― na realidade, este esforço controlado não faz menos dele uma fonte objetiva de instabilidade e ruído na orgânica decisional comunitária, sendo que esta só teria a ganhar se a voz da Comissão, que se vai finalmente ouvindo e sentindo com alguma clareza e rumo (incomparavelmente em relação a largos anos de desvirtuante cedência e submissão de Comissões anteriores), pudesse beneficiar de uma maior estabilidade e coerência dos princípios afirmados pelos responsáveis de países cruciais como a França no seio de um Conselho difícil e muito dividido.
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