O último relatório divulgado pelo “McKinsey Global Institute” é analiticamente muito rico quanto a variadas dimensões associadas à questão do crescimento à escala global e a única forma de lhe prestarmos a homenagem que merece é dele fazermos uma leitura profunda e atenta. Limitar-me-ei aqui a uma espécie de executive digest, algo ainda mais focado do que um sumário executivo.
Não perderei muito tempo a sublinhar aqui a excecional pujança do crescimento observado nos últimos 50 anos (vejam-se os dois gráficos abaixo), com o bolo da economia mundial a ser multiplicado por seis e a população a mais que duplicar e daí resultando uma quase triplicação do rendimento médio por habitante. Ficam as evidências.
Passo então adiante, começando por salientar que o título diz quase tudo o que finalmente acaba por estar em causa: “Global Growth: Can Productivity Save the Day in an Ageing World?” – crescimento, produtividade e envelhecimento, três palavrinhas apenas exploradas em três passos principais e na seguinte sequência básica (vejam-se os dois gráficos seguintes):
· “nos últimos 50 anos, dois fatores alimentaram um crescimento do PIB excecionalmente rápido: uma força de trabalho em expansão rápida e uma produtividade média crescente” (taxas anuais de 1,7% e 1,8%, respetivamente);
· “os fortes ventos demograficamente favoráveis que alimentaram o crescimento do PIB chegaram ao fim e estão a começar a tornar-se ventos contrários em alguns países” e “tomando todos os fatores em linha de conta, é esperado que o crescimento médio do emprego nos 20 países estudados caia para 0,3% ao ano nos próximos 50 anos, menos de um quinto dos 1,7% de crescimento observado entre 1964 e 2014”;
· assim, “se o crescimento da produtividade continuasse a ocorrer nos próximos 50 anos à sua taxa média de 1964 a 2014, a taxa de crescimento do PIB global declinaria em 40%”.
Descendo a um nível ligeiramente mais aprofundado, concluiria este apontamento com dois pontos adicionalmente dignos de menção. O primeiro diz respeito à força de trabalho, domínio em que está as duas últimas décadas já revelam um abrandamento do crescimento do emprego global, por razões que decorrem do concurso complementar da quebra populacional e da baixa do rácio de população em idade ativa – uma situação que os autores estimam ir previsivelmente agravar-se no próximo meio século e conduzir a um declínio da taxa de crescimento anual do emprego para um valor em torno de 0,3% (contra os 1,7% dos 50 anos precedentes).
A segunda nota tem a ver com a produtividade, precisamente a variável que não só poderá ter a influência mais decisiva no crescimento futuro como será aquela relativamente à qual os maiores desafios se colocam: apesar de o seu crescimento ter sido já bastante marcante nos últimos 50 anos (1,8% ao ano), as tendências demográficas atrás analisadas levam a que a sua manutenção (ela própria duvidosa) correspondesse a uma quebra global no crescimento de 40% (dos 3,6% anteriores para 2,1%) – nestes termos, apenas um crescimento da produtividade a um ritmo 80% superior ao atual (3,3% contra os presentes 1,8%) poderia compensar os previsíveis efeitos demográficos negativos (mais cenários abaixo).
Muita água vai ainda correr debaixo das pontes e nada é à partida inatingível. Mas lá que os tempos não parecem os mais propícios a grandes apostas e dinâmicas de crescimento, lá isso não. E se os contributos nesse sentido poderão ser múltiplos, sob o impulso necessariamente dominante das estratégias empresariais e setoriais, importará também convir que já voltou a não ser pecado apelar a uma coadjuvante eficiência das políticas públicas – criatividade e competência precisam-se!
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