quarta-feira, 25 de fevereiro de 2015

O PENSAMENTO ECONÓ DO DOUTOR CÓ


Como aqui já há muito referi (post de 11 de março de 2012), eu até tinha uma ideia feita e bastante positiva do economista e gestor António Pires de Lima (APL). O que me concede uma razão forte para sentir um crescente compadecimento, e mesmo dó, quando me vejo confrontado com as idiotas e truculentas prestações que já vão marcando esta incursão pela política a que em infeliz hora se decidiu. Claro que eu sei que os perfis psicológicos de cada um e as circunstâncias que os enquadram fazem com que determinadas caraterísticas possam ser diferentemente utilizadas em cada uma das figuras que aceita ou é levado a assumir: um tipo é inteligente e pode limitar-se a querer recorrer a esse atributo para pensar, procurar soluções e agir na sua implementação (este era o APL que eu conhecia), mas um tipo que é inteligente também pode querer recorrer a esse atributo para exibições de superioridade e arrogância perante a ralé (demagogicamente sempre tratada nas palminhas ao nível da palavra) e ir ao ponto de uma experimentação teatral cujas rasteira vulgaridade e dominante apalhaçada remeteriam, em seres nascidos em berços mais normais, para sinais de senilidade ou estados de embriaguez (este é o Pires com que nos vamos deparando).

Na sequência de tantas outras prestações bem pires, Pires fez por estes dias – devidamente rodeado pelos seus emplastros e ajudantes – a seguinte declaração (vejam-se acima alguns momentos elucidativos da profundidade, do sentimento, da ameaça e do agastamento com que nos quis brindar): “Há duas atitudes possíveis: uma que é aquela que este Governo tem demonstrado: enorme respeito pelo trabalho dos empresários, dos gestores, dos trabalhadores. (...) Mas, claro, há outra atitude que é mais, se quiserem, socialista e que é ver na criação de riqueza sempre uma oportunidade para ir buscar mais uma taxa, uma taxinha. (...) Eu acho que é ótimo que, com antecedência, os portugueses percebam aquilo que é o pensamento económico e empresarial do doutor António Costa [leia-se-lhe nos lábios da imagem abaixo as ênfases no “nó” e no “có” que chamei a título], porque depois só votam realmente nele se entenderem que esse é o caminho, o das taxas, taxinhas. (...) Em todas as áreas ligadas ao Ministério da Economia, não criamos nenhuma taxa nem taxinha.”


Dito isto, queria sugerir ao visado Costa que não se iluda com o teor das imbecilidades com que o vão mimando. Quer porque sempre poderá vir a surgir algum adversário à altura (ou, pelo menos, condigno), quer sobretudo por aquilo que muitos portugueses esperam dele e pelo que a partir dele seria preciso que viesse a surgir para o País. Neste quadro, o que me preocupa não é tanto o seu alegado silêncio em termos programáticos (poucos portugueses estão à espera de comparar programas...) mas principalmente o que a instituição PS vai deixando revelar em termos de impreparação substantiva, instabilidade de posicionamentos, mistos de preguiça crónica com triunfalismos irrealistas e primas donnas em roda livre. É que a vitória eleitoral até poderá acabar por ser o mais fácil de conseguir quando referenciada ao que seguidamente se poderá vir a revelar uma prenda bem amarga...

(excerto de um cartoon de Henrique Monteiro, http://henricartoon.blogs.sapo.pt)

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