quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

A DÍVIDA GLOBAL

(Ingram Pinn, http://www.ft.com)


O “McKinsey Global Institute” produziu e divulgou recentemente mais um dos seus interessantes relatórios, desta vez subordinado ao tema da dívida acumulada à escala global e sugestivamente apelidado de “Debt and (Not Much) Deleveraging” (capa acima).

As evidências são imensas e nem sempre as mais desejáveis ou expectáveis. Vejamos algumas das mais chamativas com o apoio dos gráficos abaixo reproduzidos (clicar sobre eles para melhor visualização) com a devida vénia aos seus autores:

· um stock de dívida global que cresce incessantemente desde o início do século e atinge o astronómico montante de quase 200 biliões de dólares e um peso relativo de 286% do PIB;

· um perfil de endividamento largamente diferenciado quando comparados os anos pré-crise (2000/07) e pós-crise (2007/14), com as famílias e as empresas financeiras a pontuarem os principais aumentos no primeiro período e o tandem governo-empresas não financeiras a dominar no segundo;

· uma inexistente desalavancagem nos anos pós-crise (57 biliões de aumento ao longo do período), a despeito do que era prometido pelas receitas imaginárias dos talibãs austeritários;

· apenas 5 dos 47 países da representativa amostra considerada no estudo conheceram um processo de desalavancagem, o qual nem sempre ocorreu pelas melhores razões (Egito e Argentina, p.e.);

· enquanto os cinco maiores devedores à escala global em proporção do seu peso económico são Japão, Irlanda, Singapura, Portugal e Bélgica (por ordem decrescente), os cinco maiores crescimentos no endividamento verificaram-se nos seguintes países (idem): Irlanda, Singapura, Grécia, Portugal e China;

· Portugal surge, curiosamente, em quarto lugar nos dois rankings e é hoje detentor de uma dívida acumulada (governo, empresas financeiras e não financeiras e famílias) equivalente a 358% do seu PIB.



E por aqui me fico. Não sem referir que são os próprios autores do relatório a virem defender explicitamente a necessidade de “abordagens frescas” para evitar futuras crises de dívida – sim, porque se a dívida é em si mesma um problema e pode gerar outros de bastante gravidade (instabilidade financeira, designadamente), o facto é que tudo resulta pior quando os esforços no sentido de a reduzir empurram as economias para ambientes deflacionistas e depressivos e acabam por inviabilizar em absoluto aqueles esforços. Por muito que alguns continuem a proclamar que ainda há algumas laranjas por espremer...

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