quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

A OBSESSIVA MISSÃO PATRIÓTICA DE APOUCAR O PAÍS

(João Fazenda, http://visao.sapo.pt)

Por estes dias, e ainda a propósito das audiências do Presidente da República a Ricardo Salgado (ver meu post de 31 de janeiro), João Miguel Tavares referira-se à incapacidade do povo português para compreender o que lhe diz Cavaco. Escrevendo nomeadamente a seguinte preciosidade: “O primeiro problema do conflito de interpretações Cavaco/povo português é lógico. Efetivamente, da conjugação das frases ‘O Banco de Portugal disse-me que o BES está porreiro’ e ‘O Banco de Portugal é bestial’ não resulta necessariamente a conclusão ‘O BES está porreiro’, na medida em que existe sempre uma hipótese de o Banco de Portugal poder enganar-se e continuar bestial. O segundo problema é performativo. Por trágico desconhecimento da Teoria dos Atos da Fala de John Austin, o povo confundiu o ato ilocucionário (uma certa ênfase na solidez do BES) com o ato perlocucionário (um convite para continuar a investir no banco e não ir a correr vender as ações). É um erro lamentável. Razão tem Nuno Crato: numa sociedade com tantas fragilidades educativas, não só não vamos a lado algum como corremos o sério risco de nunca compreender o Presidente da República.” E concluindo brilhantemente: “A ver se percebem este raciocínio de uma vez por todas. Se um dia se descobrir que o Homem nunca foi à Lua, e os jornalistas pedirem um comentário a Cavaco, ele dirá: ‘Eu já reparei que alguns dos senhores disseram e escreveram que o Presidente da República fez declarações sobre a ida do Homem à Lua. O que eu disse é que tinha visto na RTP o Homem a ir à Lua. As declarações eram sobre a RTP. Não sobre o Homem, e muito menos sobre a Lua. E mais nada.’ Querem saber como alguém raramente se engana e nunca tem dúvidas? É fácil: basta tornar-se um filósofo da linguagem.”

Dias antes, Vasco Pulido Valente escrevera, com todas as letras, que Cavaco “não merece a nossa confiança”; e afirmara ainda: “O sr. Presidente da República devia daqui em diante observar um silêncio penitente e total, com o fim meritório de não assanhar a crise que ele consentiu e em parte criou.”


Porque Cavaco não tem, de facto, emenda! E, pior que tudo, acumula três em um ao juntar a falta de princípios à falta de vergonha e ambas à falta de jeito. Desta vez aproveitou uma ida ao Congresso Nacional do Milho para mais três teatrais e miseráveis representações em que: 

· pretendeu diminuir o governo grego: “nós verificamos que nestas duas semanas o governo grego já aprendeu bastante sobre o funcionamento da União Económica e Monetária, tem vindo a corrigir as suas posições e espero bem que continue a corrigi-las por forma a que se possa chegar a um entendimento na reunião do Eurogrupo, no diálogo com a Comissão e na reunião do Conselho”;

· entendeu voltar a pregar pelos pobres: “ficou agora provado que quando se fala nessa coisa que se chama perdão de dívida – que é o que os mercados entendem –, os custos recaem sempre sobre aqueles que são os mais desfavoráveis na sociedade: taxas de juro para a Grécia, ontem, a 20% – isso conduz a uma situação de degradação da economia, não há acesso aos mercados e ficou provado em todo este processo que quando isso acontece são os mais pobres, os mais frágeis, os trabalhadores os primeiros a serem atingidos”;

· quis contribuir para o alimento das mais reles demagogias populistas sobre a construção europeia: “Portugal tem vindo a demonstrar solidariedade em relação à Grécia para que ela permaneça na zona do Euro – para além do empréstimo que fizemos à Grécia de cerca de mil e 100 milhões de euros, Portugal tem vindo a transferir para a Grécia o produto dos juros das obrigações na posse do Banco de Portugal, o que significa muitos milhões de euros que saem da bolsa dos contribuintes portugueses”.

E ainda teve tempo de acabar as suas declarações fazendo um tempo de campanha eleitoral em favor do Governo. Ei-lo aqui abaixo mostrando toda a paternal babugem que conseguiu aglutinar/acondicionar perante a magistral obra de Passos e Albuquerque em inestimável associação com Portas e Pires...

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