(David Simonds, http://www.macrovolatility.com)
Ambrose Evans-Pritchard (AE-P) é o editor de international business do “Daily Telegraph”, foi seu correspondente em Bruxelas (1999/2004) e é um crítico de sempre relativamente à criação de uma união económica e monetária na Europa. Mas, como ele gosta de sublinhar, nunca foi um primitive euro-hater que alinhasse com a teimosa insistência dos eurocéticos britânicos em que a moeda única nunca iria conseguir chegar ao terreno mas sim, e contrariamente a eles, foi alguém que defendeu que o Euro iria ser posto em funcionamento e que, isso sim, desencadearia o verdadeiro problema que se viria a colocar.
E gosta de o comprovar através dos seus escritos ao longo do tempo, especialmente de um seu artigo de finais de 1998 em que se pode ler designadamente o seguinte: “O meu ponto é e sempre foi o de que o lançamento do Euro era a parte fácil. O teste seria 1) se países com estruturas, padrões comerciais, sistemas de negociação salarial, estruturas de dívida, sensibilidades às taxas de juro, taxas de crescimento da produtividade e taxas de inflação históricas amplamente diferentes iriam divergir tão acentuadamente no tempo que viessem a ameaçar a viabilidade do sistema; 2) se a UEM poderia desviar uma má tempestade sem o suporte de uma tesouraria única e de uma debt union; 3) se o bloco da Zona Euro teria a “solidariedade caraterística de uma nação” (o termo do Bundesbank) requerida para poder resistir a tempos maus.” Para mais adiante acrescentar: “Os políticos foram avisados de que o Euro acabaria para conduzir a uma crise. Mas não fizeram caso.” Ou ainda: “O Euro estava para ser a parteira do estado federal. (...) Suspeito que será a parteira da desordem, conduzindo a uma crise existencial para o sistema europeu. (...) Eu tenho vindo a repetir como um disco riscado que talvez isto acabe tudo mal.”
(Ambrose Evans-Pritchard, http://www.telegraph.co.uk)
Pois no meio da autêntica avalanche de artigos, de todas as formas e feitios, sobre a questão da Grécia na Zona Euro na sequência da vitória eleitoral do Syriza, AE-P divulgou há dias no seu jornal um texto particularmente curioso em termos de argumentação (“ECB risks crippling political damage if Greece forced to default”): a ideia-mestra é a de que uma eventual falência da Grécia levaria a que os cidadãos alemães descobrissem instantaneamente que teriam desaparecido largas quantias de dinheiro comprometidas sem o seu conhecimento e sem o voto do Bundesbank. E explica-se sublinhando que uma saída da Grécia do Euro (Grexit) não corresponderia apenas a um default associado aos seus pacotes de assistência mas também quanto às suas responsabilidades junto do BCE por via do sistema “Target 2”. Porque se os ajustamentos neste quadro são normalmente rotineiros, automáticos e autocorretivos, os mesmos tenderiam a tornar-se nucleares em caso de rotura da união monetária – vejamos: por um lado, o défice do banco central grego junto do BCE àquele título tem vindo a crescer desde o final do ano, devido às significativas saídas de capital entretanto registadas (49 mil milhões de euros em dezembro e um valor próximo dos 70 atualmente), e um cenário de Grexit significaria uma cristalização desses défices em perdas; por outro lado, os correspondentes créditos do banco central alemão junto do BCE (ver gráfico acima) terão aumentado em 72 mil milhões de euros desde julho até ao final de janeiro (515 mil milhões, no total); e a inferência óbvia é a de que a maioria deste aumento terá a sua razão de ser em movimentos de capitais de bancos gregos para bancos alemães (diretos ou via Suíça, Chipre ou Grã-Bretanha). Ora, é aqui que entra o argumento de AE-P, combinando a perspetiva daqueles que sustentam que o “Target 2” representa um “resgate secreto” para os países devedores com a daqueles outros que explicitam sem rebuço quanto um Grexit detonaria o referido sistema – que parlamento credor permitiria que os seus bancos centrais continuassem a fornecer crédito ilimitado aos países devedores através daquele sistema se ele falhasse na Grécia? –, tornando assim os seus riscos potenciais numa súbita realidade concreta, que não apenas criaria problemas práticos no quadro do BCE (repartição das perdas entre os vários Estados segundo a respetiva capital key e possível exigência de uma recapitalização) como poderia provocar uma tempestade política na Alemanha com Merkel a ser confrontada com o inédito ugly moment de ir solicitar ao Bundestag meios de cobertura para o prejuízo e este a vir seguramente questionar, na decorrência direta, todo o projeto do Euro.
AE-P está, pois, do lado dos que entendem que a posição dos gregos está ancorada no facto de possuírem um peso maior do que habitualmente se lhes atribui e, pese embora a assumida e histórica antipatia de AE-P pelo Euro, não creio que tal enviesamento subjetivo aqui possa estar a afetar significativamente a objetividade da sua análise. Nesta e noutras áreas com predominante potencial de incidência geopolítica...
(Ilias Makris, http://www.kathimerini.gr)
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