(Luís Grañena, http://www.sabado.pt)
Arrumava eu os meus arquivos mensais – como sempre procuro fazer na viragem dos meses – quando me dei conta de um lapso involuntariamente cometido: a não menção aqui ao falecimento de Manuel de Lucena (ML), ocorrido no próprio dia em que cumpria 77 anos (7 de fevereiro). Um intelectual de primeira água que assim desaparece, na sequência de uma vida cheia e só aparentemente acidentada/contraditória nos principais contornos das suas posições públicas (ilustra-o a síntese que sabiamente conseguiu realizar entre Melo Antunes, Francisco Sá Carneiro e Jorge Sampaio). A sua pertença à geração de 62 marcou-o para sempre e esteve na origem das revistas “O Tempo e o Modo” e “Polémica”, mas a ligação mais perene que se lhe conheceu foi o Instituto de Ciências Sociais (ICS), tendo sido “A Evolução do Sistema Corporativo Português” (1976) a sua obra mais referenciada. Sendo que ML foi sobretudo “um homem livre”, podendo também ser justamente caraterizado como “um aristocrata do pensamento”. De si próprio, falava nos seguintes termos: “Eu acho que só há uma coisa que eu faço mesmo bem: é traduzir. Não sou estúpido, de vez em quando penso umas coisas que não são mal pensadas, mas não tenho um pensamento vasto e universal capaz de acolher os principais aspetos da nossa querida existência.” A lucidez dos melhores...
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