domingo, 1 de fevereiro de 2015

TANTAS VIAGENS, SEMPRE INTEIRO

(Paulo Araújo, http://pabloarau.wix.com)



Começo por uma declaração de interesses: por boas e variadas razões, tenho uma especial simpatia pessoal pelo Pedro Abrunhosa e esta assim me conduz sem grandes mediações a um enviesamento preferencial pelo trabalho artístico que realiza há mais de vinte anos e se traduz em sete álbuns editados. 

Acresce que faço parte do grupo dos que estiveram no espetáculo inaugural dos Bandemónio no Coliseu do Porto, em novembro de 1994, então muito por força da pressão de duas filhas adolescentes que foram as primeiras da família a aderir ao grito de rebeldia que emergia de “Viagens”. Depressa percebi que o Pedro era algo mais do que isso e que sobretudo trazia consigo uma vontade irreprimível de contribuir para incentivar nos portugueses uma diferente atitude – lembram-se da canção “Talvez Foder”? – em relação ao clima de mediocridade, reverência, encolhimento e temor que foi a marca daqueles tristes dez anos de regime “cavaquista”. 

Acresce ainda que, entre várias outras atuações do Pedro a que pude assistir, presenciei em direto aquele lançamento de “Fazer o que Ainda não Foi Feito” com que ele brindou provocatoriamente o então presidente da Assembleia Municipal do Porto (e atual ministro da Defesa) e, através dele, o admirável presidente da Câmara de então, Rui Rio. Declarando adicionalmente o seu apoio expresso à candidatura de oposição que se preparava para 2009 - que o PS-Porto e alguns “socialistas” interesseiros e/ou desprovidos se encarregariam de minar miseravelmente - e na qual ele próprio viria a ter participação ativa como número 3 da lista para a Assembleia Municipal. 

Dito tudo isto, e tendo marcado presença ontem no terceiro concerto seguido do Pedro no Coliseu do Porto com o espetáculo “Inteiro” (o que fico a dever à iniciativa da Fernanda e do David), nele confirmei em pleno tudo o que crescentemente fui pensando do protagonista: cidadania, coerência humanista e abertura com muitas pitadas de sensibilidade, profissionalismo e energia. 

Mais de três horas em palco e quase sempre a malhar. Fora ele, outros dezanove em palco, incluindo os convidados Camané, Mário Barreiros e João Ricardo (excelentes no dueto vocal do “para os braços da minha mãe” e naquele “enquanto não há amanhã, ilumina-me”, na qualidade dos solos de guitarra ou na sonoridade dos catos, respetivamente). Um sala cheia de um público completamente envolvido e empolgado, colaborando em permanência com as propostas e os temas do artista. Momentos de crítica e despertar social, momentos de fraternidade e romantismo, momentos comoventes e de homenagem, além de momentos de interação únicos como aqueles em que as pessoas foram convidadas a saltar para o palco e o invadiram ou aqueles outros em que o Pedro se passeou pela sala saudando muitos dos nela presentes. 

Não sei mesmo se “o melhor está p’ra vir”, mas bem-hajas na mesma, Pedro!

 

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