O tema já andava a aboborar há uns tempos na minha cabeça, talvez sobretudo porque me incomodam os unanimismos feitos de repetições em cadeia e esta coisa da devolução do financiamento ao FMI em tal se tinha transformado de modo quase obsessivo (oposição incluída). Mas foi só quando li o argumento esparramado por João Vieira Pereira (JVP) no “Expresso Diário” que tomei verdadeira consciência do que de mais essencial poderá vir a estar em causa.
Cito a colocação do problema feita por JVP: “Antecipar o pagamento de 14 mil milhões ao FMI é um erro. E pode ser crasso. A pressa é inimiga da perfeição. Maria Luís Albuquerque quer mostrar que não somos a Grécia. Que nesta altura conturbada até há um país que não só consegue pagar, mas que o faz mais cedo do que é necessário. Para o fazer tem que substituir essa dívida por nova, contraída no mercado. Pelo caminho diz ainda poupar 130 milhões em juros. Numa primeira análise este movimento é correto. Imita a Irlanda e tenta afastar, de uma vez por todas, a ideia de que Portugal está a par da Grécia.” Acrescento de seguida a parte mais relevante das dúvidas levantadas por JVP: “Se houver um ‘Grexit’ qual vai ser o impacto? Quando a crise rebentou, em 2011, o Governo tentou desesperadamente dizer que não éramos a Grécia. Não foi possível. Os mercados levaram todos por igual. Ninguém no seu perfeito juízo pode dizer que tudo está controlado. Um governo deve ter sempre um plano B. Antecipar pagamentos e ficar sem almofada não é a coisa mais prudente a fazer nesta altura.” E termino com a estocada final do mesmo JVP: “Há legislativas este ano e o Governo quer mostrar a todo o custo que conseguiu o que era considerado impossível. Mas é preciso pensar além do curto prazo. Há vida para além das eleições”.
Sabem todos os que acompanham o assunto que o IGCP e o Governo têm vindo a aproveitar, e bem, a evolução favorável dos juros nos mercados da dívida – que, sublinhe-se de passagem, pouco ou nada tem a ver com o dito Governo, a sua política, a sua credibilidade ou o fim do “programa” e a “libertação” face à Troika, como tentam impingir-nos os inúmeros propagandistas de serviço –, assim logrando produzir sucessivos momentos de reestruturação na prática da dívida pública nacional. Mas o comprovado facto de não haver bem que sempre dure torna razoáveis as interrogações de JVP e talvez até pudesse por isso ter aconselhado mais algumas cautelas e caldos de galinha, sabido que é nunca terem feito mal a ninguém e quão facilmente poderiam ser objeto de compensações calóricas para os estômagos financeiramente mais exigentes...
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