quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

UM METRO E SESSENTA E OITO DE SPAM




Como aqui a espaços tenho sublinhado, há dias em que me lambuzo – é o termo! – quando apanho na TSF o “Tubo de Ensaio” de Bruno Nogueira, seja de manhã ao acordar seja mais à tarde quando estou no trânsito. Hoje, foi mais uma vez o caso quando o ouvi dedicar aqueles minutos a um apavonado deputadeco de 33 anos vindo de Mação (Santarém) – com passagens pelo Liceu de Castelo Branco, pelo ISCSP (onde se licenciou em Relações Internacionais, com especialização em Estratégia Internacional de Empresa, atingindo a média final de 13,5 valores apesar de ter sido trabalhador-estudante no gabinete do ministro da Presidência durante a maior parte do tempo do curso) e pelo Parlamento Europeu (onde desempenhou a patriótica função de chefe de gabinete da delegação portuguesa do PPE) – que tem todo o ar de quem vai fazer uma auspiciosa carreira na Capital e se vai entretendo a inventar tweets malcriados e de mau gosto e epístolas dedicadas a políticos na ordem do dia. Incapaz de exprimir tão eficazmente o meu pensamento, opto por reproduzir a peça com a devida vénia aos seus autores:

“Olá, estimados. Bem, eu ontem tinha prometido que hoje ia dedicar um ‘Tubo’ à carta que o pequeno deputado do PSD Duarte Marques enviou ao Tsipras, mas aquilo é tão pífio que a única utilidade que eu vejo para aquela carta é fazer parte do próximo exame de professores. Basicamente, Duarte Marques – e, atenção, isto são três palavras que vão andar sempre juntas – diz ao novo primeiro-ministro grego que espera que as promessas que fez nas eleições não passem de bluff da campanha e que o primeiro-ministro grego não tenha a leviandade de cumprir o que prometeu aos eleitores, tal qual como fez o seu honrado e meritório chefe do PSD. O primeiro-ministro grego deve respeito aos portugueses e não às pessoas que o elegeram e o mais curioso é que ele diz isto falando como moralista. Para começar, faz-me impressão que um fiel seguidor da austeridade, como é o caso do Duarte, ande a gastar massa em envelopes e selos a chagar os primeiros-ministros dos outros países quando tem o nosso ali ao lado e não lhe diz nada. Eu só compreendo que o Duarte Marques tenha enviado esta carta para o primeiro-ministro grego porque fez confusão: como dizem que o Syriza é de extrema-esquerda radical, ele confundiu a situação da Grécia com a da Venezuela, onde dizem que o papel higiénico é um bem escasso. Há duas cartas que eu tenho muito medo de receber quando abro o correio, uma é das Finanças, a outra é do Duarte Marques. O primeiro-ministro grego – pumba! – recebeu duas numa só, ninguém merece; é pior do que receber emails da DECO a impingir máquinas fotográficas. Duarte Marques é assim um metro e sessenta e oito de spam. É uma pena que Portugal não possa exportar vergonha alheia, porque ficávamos corados de ricos e este tipo de deputados era uma fonte de riqueza para o País. E o pior de tudo é que, lendo a carta, dá a sensação que ele fala por todos nós, portugueses; ora, por mim não fala, até porque eu não falo com tantas vírgulas. Por mim, para pedir desculpa aos gregos e aos portugueses, punha-o a lamber colunas do Partenon até ter baixos relevos na língua. E estou a ser meiguinho. Vamos lá fazer um ponto da situação: o Syriza já declarou que não fala com a Troika e até o caracolinhos holandês que tem cara de quem caiu no teclado deu de froques, mas vão ler e responder a uma carta enviada pelo rechonchudo engraxador da austeridade? Já estou a ver o primeiro-ministro grego: ‘Duarte quem?’ – ‘Duarte Marques, bem pela fotografia deve ser rabejador de um grupo de forcados’. Na minha modesta opinião de quem nunca enviou cartas a poderosos sem ser com anthrax, eu acho que a carta do Duarte Marques ao primeiro-ministro grego devia ir para o Panteão Nacional junto com o filme que o Marcelo Rebelo de Sousa enviou há uns tempos aos alemães a explicar o que era Portugal; metia-se a carta e o filme numa urna e mandavam para um canto escuro do Panteão, uma espécie de enterro da patetice de alguns portugueses. Ou então, não. Até amanhã, estimados.”

Sem comentários:

Enviar um comentário