O mea culpa de Juncker sobre os tempos das
TROIKAS e seus efeitos na “dignidade dos povos” (palavras proferidas em francês
não se calhar por acaso em personalidade trilingue) devem ter causado alarme
nas hostes e, nas Américas, Barroso deve ter tido uma crise de incomodidade,
fugaz por certo, mas real.
Como é óbvio, o distanciamento de Juncker face à
receita das TROIKAS tem que se lhe diga e exigirá certamente múltiplas
interpretações, sobretudo de quem foi Presidente do Eurogrupo e não há dúvida
de que entre a sua presidência e a do encaracolado holandês de nome
impronunciável há diferenças assinaláveis. Mas a acusação está proferida,
dificilmente terá retorno aos limites do politicamente correto e coloca
engulhos e que engulhos aos que tornaram possível a eleição de Juncker e que se
reviam nas receitas troikistas. Os alemães devem ter vociferado. Rangel, o
circunspecto deputado europeu e entusiasta apoiante de Juncker viu nas
afirmações uma grande injustiça para com o amigo (de quem?) Barroso e na
maioria que faz de conta que os governa a reação foi de atrapalhação, já que a
metáfora da parada está cada vez mais perto (os outros vão avançando e o risco
aumenta de ficar sozinho). Mas os danos colaterais não se quedaram por aqui. O
ministro Machete interroga-se se for demonstrado que as terapias da Troika
causaram danos aos portugueses então é provável que deva haver reparações, não
tendo elaborado mais sobre o tipo de reparações de que falava. Grande Machete.
Deves ter tirado o sono ao primeiro-ministro. Este, cada vez que é pressionado
em dose adicional, dá largas à sua vasta cultura de solidariedade. Até consegue
descobrir no baú desorganizado da sua memória que foram “duros” na negociação
com a Troika. Gostaria de saber onde está a base possível para o escrutínio
democrático destas afirmações. E sai-se, desabrido, que paga para ver como é
que os gregos conseguirão crescer sem os recursos dos outros. Mas que mente “brilhante”
tem este Passos. Alguém lhe terá dito que não é isto que não está em causa na
situação grega? A maioria parece estar em deriva ciclónica e já ninguém se
entende.
As afirmações de Juncker podem também ser
entendidas no quadro das difíceis negociações em curso com a Grécia, procurando
baralhar posições, criar condições para algum recuo das autoridades europeias,
mas tal interpretação exigiria dados mais finos e mais “inside” para ter alguma plausibilidade. Não sou dos que estou muito
expectante quanto à decisão do Eurogrupo de hoje. Sairá provavelmente algo em
torno do empurrar o problema para a frente. Como diria o eloquente Machete,
vamos ver.
Sem comentários:
Enviar um comentário