sexta-feira, 20 de fevereiro de 2015

JUDAS OU ARREPENDIDO?



O mea culpa de Juncker sobre os tempos das TROIKAS e seus efeitos na “dignidade dos povos” (palavras proferidas em francês não se calhar por acaso em personalidade trilingue) devem ter causado alarme nas hostes e, nas Américas, Barroso deve ter tido uma crise de incomodidade, fugaz por certo, mas real.
Como é óbvio, o distanciamento de Juncker face à receita das TROIKAS tem que se lhe diga e exigirá certamente múltiplas interpretações, sobretudo de quem foi Presidente do Eurogrupo e não há dúvida de que entre a sua presidência e a do encaracolado holandês de nome impronunciável há diferenças assinaláveis. Mas a acusação está proferida, dificilmente terá retorno aos limites do politicamente correto e coloca engulhos e que engulhos aos que tornaram possível a eleição de Juncker e que se reviam nas receitas troikistas. Os alemães devem ter vociferado. Rangel, o circunspecto deputado europeu e entusiasta apoiante de Juncker viu nas afirmações uma grande injustiça para com o amigo (de quem?) Barroso e na maioria que faz de conta que os governa a reação foi de atrapalhação, já que a metáfora da parada está cada vez mais perto (os outros vão avançando e o risco aumenta de ficar sozinho). Mas os danos colaterais não se quedaram por aqui. O ministro Machete interroga-se se for demonstrado que as terapias da Troika causaram danos aos portugueses então é provável que deva haver reparações, não tendo elaborado mais sobre o tipo de reparações de que falava. Grande Machete. Deves ter tirado o sono ao primeiro-ministro. Este, cada vez que é pressionado em dose adicional, dá largas à sua vasta cultura de solidariedade. Até consegue descobrir no baú desorganizado da sua memória que foram “duros” na negociação com a Troika. Gostaria de saber onde está a base possível para o escrutínio democrático destas afirmações. E sai-se, desabrido, que paga para ver como é que os gregos conseguirão crescer sem os recursos dos outros. Mas que mente “brilhante” tem este Passos. Alguém lhe terá dito que não é isto que não está em causa na situação grega? A maioria parece estar em deriva ciclónica e já ninguém se entende.
As afirmações de Juncker podem também ser entendidas no quadro das difíceis negociações em curso com a Grécia, procurando baralhar posições, criar condições para algum recuo das autoridades europeias, mas tal interpretação exigiria dados mais finos e mais “inside” para ter alguma plausibilidade. Não sou dos que estou muito expectante quanto à decisão do Eurogrupo de hoje. Sairá provavelmente algo em torno do empurrar o problema para a frente. Como diria o eloquente Machete, vamos ver.

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