quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

DIANA E DYLAN



Eu tenho a perfeita noção de que já quase não se usa comprar CD’s, mas o certo é que continuo a resistir a tal modernidade. Não que não tenha às vezes alguns assomos de comodidade que me levem a recorrer a uns confortáveis downloadzinhos à la carte. No entanto, acabo sempre por voltar àquelas caixinhas durante anos acumuladas em esbeltas prateleiras coloridas.

As minhas duas últimas aquisições são do foro do incontornável. Por um lado, uma das minhas divas – Diana Krall – em versão menos jazzada do que lhe é apanágio e optando desta vez por um álbum contendo preferencialmente standards de pop ou, como ela própria diz, “canções de que eu gosto”. Chamou-lhe “Wallflower” (literalmente goivo-amarelo, mas coloquialmente flor de estufa ou murcha e pessoa introvertida ou rapariga sentada num baile por não ter par), ao que confessou por tal caraterística de timidez lhe assentar bem, e por lá abre as hostilidades com uma belíssima interpretação de “Caliifornia Dreamin’” dos “The Mamas & The Papas” e prossegue com uma dúzia de outras que recupera de Dylan, Elton John e McCartney ou dos “Eagles” e “Carpenters”, designadamente.

Por outro lado, um dos grandes do meu tempo (!) num trabalho improvável mas muito conseguido (“a new way in rock history”, escreveu-se com algum exagero na “Rolling Stone”). Explicou ele, Bob Dylan, que se decidiu a cantar Sinatra – aliás em dez canções relativamente pouco conhecidas e por ele recriadas de forma minimalista num álbum que onomatopaicamente designou por “Shadows in the Night” – por recusar a opção de muitos outros artistas que “se escondem no passado porque lá é mais seguro”. Aos 73 anos, a voz arrastada, frágil e inquieta de Dylan encaixa como uma luva em todo aquele tributo afirmado pela diferença (“Como não havia muitos discos folk, costumava pôr a tocar a fenomenal ‘Ebb Tide’ do Frank Sinatra, que nunca deixou de me encantar. Quando Frank cantava essa canção conseguia ouvir tudo na sua voz: a morte, Deus e o universo, tudo”) que inclui “I’m a Fool to Want You”, “Full Moon and Empty Arms” e a velhinha “Autumn Leaves” (originalmente “Les feuilles mortes” na voz de Yves Montand), entre outras peças.

Aqui deixo um sentido aplauso e uma viva recomendação.

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