Ciclicamente cá me sinto forçado a voltar à gasta tecla de contrariar a azucrinante e despudorada propaganda governamental em torno da questão do emprego e do desemprego e dos supostos milagres que conseguiram praticar na matéria. Por ocasião da divulgação pelo INE das correspondentes estatísticas relativas ao quarto trimestre de 2014, Mota e Pires exultaram – naqueles seus falares nervosamente saltitante (o infante que Portas trouxe) e programadamente cadenciado (a aquisição sénior, igualmente agenciada por Portas) – e a criadagem repetiu como e onde pôde – com destaque para o cada vez mais inchado Nuno Magalhães (na bancada parlamentar do CDS) e para o cada vez mais inflamado Adão Silva (um macedense ruidoso que paira na do PSD).
Insisto, pois. Desta vez com a preciosa mão do jornalista Luís Reis Ribeiro (JN e “Dinheiro Vivo”), quando salienta em termos quase óbvios: “oficialmente, há duas formas de sair do desemprego: ou arranjando trabalho ou passando a um estado de ‘inatividade’, como voltar a estudar, passar à reforma, abraçar tarefas domésticas...”. É que um dos busílis da questão em Portugal está precisamente aqui, na medida em que a tão badalada redução do desemprego que os números evidenciam como tendo sido admiravelmente verificada em 2014 (menos 110 mil desempregados relativamente ao final do ano precedente) é subdividida num pífio aumento da população empregada em 22,7 mil pessoas (pouco mais de um quinto de regressos ao mercado de trabalho, portanto) e numa assunção da inatividade e abandono da população ativa por parte de 26,7 mil pessoas, o que nos remete para que as restantes cerca de 60 mil pessoas (55% das que deixaram de estar desempregadas, pois) tenham recorrido à emigração e consequentemente contribuído para uma nova redução da população portuguesa total.
Ou seja: é verdade e é positivo que, após uma brutal escalada ascensional desde 2008 (687 mil postos de trabalho perdidos até ao pico de inícios de 2013), a taxa de desemprego oficial conheceu em 2013 e 2014 uma paulatina redução durante seis trimestres consecutivos (evolução interrompida no último trimestre de 2014) e que assim foi conduzida para os atuais 13,5% correspondentes a 698,3 mil desempregados. Mas não deixa de ser igualmente certo, nos termos aliás sublinhados pela maioria da comunicação social, que “Portugal recuperou um em cada dez empregos perdidos”, que “apenas um quinto dos que deixaram o desemprego voltaram a trabalhar” ou que os “inativos pesam mais na descida do desemprego”. E também, mesmo fazendo por evitar as contabilidades criativas associadas aos estágios, é o próprio INE a informar-nos que ainda existem 280,3 mil pessoas como inativas – estando 24,6 mil à procura de emprego e 255,7 disponíveis para trabalhar mas já sem procurarem emprego –, para além de um registo de 251,7 mil trabalhadores em situação de “subemprego a tempo parcial” (embora disponíveis para horários completos) – um total de 534 mil cidadãos, pois, nas margens do mercado de trabalho e que, a serem considerados na taxa oficial de desemprego, levariam a respetiva taxa para um valor em torno de 23,8%. Há honestamente razões para tanto foguetório, senhores meus?
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