sexta-feira, 27 de fevereiro de 2015

ZEINAL E A SÃ CONSCIÊNCIA



A passagem de Zeinal Bava, ontem, pela comissão de inquérito ao BES/GES logrou uma rara unanimidade na comunicação social portuguesa. Quer quanto à forma, quer quanto ao conteúdo. Doravante, este comendador de Cavaco já não mais escapará àquela imagem que – entre o ar pensador, a fachada sorridente e a expressão aparvalhada – repetia que não sabia de nada, que não tinha que saber, que não guardava memória, que lhe era difícil responder, que não lhe cabiam responsabilidades, que fora assim porque assim fora.

Mas, mais uma vez, foi Fernando Alves quem melhor descreveu a cena na sua curta crónica desta manhã na TSF. Assim disse, quase tudo deixando dito:
“Quantas horas teria podido ficar Zeinal Bava repetindo a chave sagaz da sã consciência sem o presumível estabelecimento das sinapses, as que fossem necessárias. O que se revelou admirável, irritantemente admirável na audição de ontem, foi a capacidade de Zeinal em esticar a fala oca. O homem que se presta a intermináveis explicações, enquadrando sempre operações muito complexas nas quais sempre desempenhou papéis decisivos, concluiu sempre, invariavelmente, que não sabia de nada nem teria de saber. Gestor amnésico lhe chama hoje o JN, Bruno Faria Lopes no ‘sobe e desce’ do Diário Económico sublinha que o homem do detalhe só não sabia da Rio Forte, o homem do detalhe sorriu na Comissão e repetiu a chave sagaz: ‘em sã consciência, não me lembro de alguma vez...’, ‘em sã consciência, não sabia...’, ‘em sã consciência...’. Muitos cuidam da reputação mas não da consciência, disse num dos sermões o Padre António Vieira. Ora, invocando ontem repetidamente a sã consciência, o amante dos detalhes de cuja memória deles tão sorridentemente se liberta não granjeou entre os deputados de todas as bancadas uma confortável reputação. Consensualmente considerado um gestor sofisticado, terá ele em sã consciência pressentido que se esfumou qualquer outra hipótese de consensualidade? Enfim, detalhe despiciendo em sã consciência.”

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