terça-feira, 24 de fevereiro de 2015

JORGE SAMPAIO E OUTROS SAMPAIOS



Jorge Sampaio, José Madureira Pinto e Alexandre Quintanilha reunidos na cerimónia de atribuição do título de Doutor Honoris Causa ao primeiro é uma daquelas preciosidades no tempo longo que honra uma Universidade, uma Cidade e todos aqueles que se revêm no capital intelectual e nos valores que aproximam as três personalidades. Ausente do evento, o relato do meu colega de blogue é para mim suficiente para partilhar a profundidade deste momento e sobretudo o peso das ideias que enriqueceram a cerimónia.
Mas a atração dos contrários é por vezes bem ilustrativa.
Ontem,  no Prós e Contras, para o qual confesso que a minha paciência é hoje pouca, um zapping de circunstância trouxe-me um outro Sampaio, Pedro Sampaio Nunes (PSN) de seu nome, que ficará certamente na história, não pela sua passagem pelo governo de Santana Lopes, mas pela mais despudorada defesa dos resultados dos programas de ajustamento que se abateram sobre os países sob resgate financeiro. Inebriado não sei por que contrapartida (o homem era em 2011 apresentado pelo Negócios como um especialista em energia), PSN apresentou ao programa uma espécie de conto da carochinha dos programas de ajustamento, tão entusiasmado que estava que falou em resultados espetaculares dos programas, a começar pelo grego. O desaforo do personagem era tão evidente que, José Manuel Fernandes, teoricamente seu colega de bloco no dois contra dois, acabou, espantemo-nos, por fazer figura de moderado.
Louça respondeu-lhe à letra, encurralando a personagem no seu despudor, mais que ingenuidade, bem mais incisivo do que um macio Pedro Lains. Que por vezes os modelos mais sofisticados se substituem ardilosamente à realidade, adaptando esta em vez de a explicar, já o sabemos. Mas que alguém não propriamente manejador desses modelos se apresente na opinião pública embalando a dura realidade dos processos de ajustamento, substituindo-a pela construção ideológica desses programas e fazê-lo com a mais assumida falta de vergonha, nunca tinha visto.
O que vale é que o tempo longo reterá as ideias e os valores de Jorge Sampaio, José Madureira Pinto e Alexandre Quintanilha ao passo que aos PSN estará reservado, como se dizia em 1974 nas lides universitárias, o caixote do lixo da história.

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