Jorge Sampaio, José Madureira Pinto e Alexandre
Quintanilha reunidos na cerimónia de atribuição do título de Doutor Honoris
Causa ao primeiro é uma daquelas preciosidades no tempo longo que honra uma
Universidade, uma Cidade e todos aqueles que se revêm no capital intelectual e
nos valores que aproximam as três personalidades. Ausente do evento, o relato
do meu colega de blogue é para mim suficiente para partilhar a profundidade
deste momento e sobretudo o peso das ideias que enriqueceram a cerimónia.
Mas a atração dos contrários é por vezes bem
ilustrativa.
Ontem, no
Prós e Contras, para o qual confesso que a minha paciência é hoje pouca, um zapping de circunstância trouxe-me um outro
Sampaio, Pedro Sampaio Nunes (PSN) de seu nome, que ficará certamente na história,
não pela sua passagem pelo governo de Santana Lopes, mas pela mais despudorada
defesa dos resultados dos programas de ajustamento que se abateram sobre os países
sob resgate financeiro. Inebriado não sei por que contrapartida (o homem era em
2011 apresentado pelo Negócios como um especialista em energia), PSN apresentou
ao programa uma espécie de conto da carochinha dos programas de ajustamento, tão
entusiasmado que estava que falou em resultados espetaculares dos programas, a começar
pelo grego. O desaforo do personagem era tão evidente que, José Manuel
Fernandes, teoricamente seu colega de bloco no dois contra dois, acabou,
espantemo-nos, por fazer figura de moderado.
Louça respondeu-lhe à letra, encurralando a
personagem no seu despudor, mais que ingenuidade, bem mais incisivo do que um
macio Pedro Lains. Que por vezes os modelos mais sofisticados se substituem
ardilosamente à realidade, adaptando esta em vez de a explicar, já o sabemos. Mas
que alguém não propriamente manejador desses modelos se apresente na opinião pública
embalando a dura realidade dos processos de ajustamento, substituindo-a pela
construção ideológica desses programas e fazê-lo com a mais assumida falta de
vergonha, nunca tinha visto.
O que vale é que o tempo longo reterá as ideias e
os valores de Jorge Sampaio, José Madureira Pinto e Alexandre Quintanilha ao
passo que aos PSN estará reservado, como se dizia em 1974 nas lides universitárias,
o caixote do lixo da história.
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