quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

SEM ÁGUA NEM FOSTER

(Joe Cummings, http://www.ft.com)

Como a seu tempo aqui dei conta, estive recentemente no Brasil e – descontando otimismos que estão na massa do sangue daquele povo – por lá me fui apercebendo de que nem tudo estava a bater certo.

Menos de um mês depois, duas bombas explodiram com estrondo: a primeira tem a ver com a inimaginável questão da falta de água em várias grandes cidades, com a iminência de colapso do sistema de abastecimento de São Paulo (Cantareira) à cabeça das preocupações públicas e privadas. Diz-me quem por lá vive que os cortes já ocorridos em vários dias e a ameaça de longos períodos sem água já começam a provocar nos cidadãos mudanças significativas de mindset, provocando alterações súbitas de comportamentos e antecipando futurologias em torno de uma sociedade lutando ferozmente pelo acesso a recursos antes tidos por inesgotáveis em horizontes temporais longos (primeiros sinais são as multas já decretadas para situações quotidianamente vulgares de desperdício de água, como as de lavagens de carros na rua) e exacerbando reações místicas e/ou religiosas na esperança de dádivas exógenas (primeiros sinais são as declarações do ministro da Energia no sentido de que o tempo de espera pelo resultado de obras infraestruturais que o governo está apressadamente a lançar possa ser amenizado por Deus – “Deus é brasileiro” e “temos que contar que ele vai trazer um pouco mais de umidade e chuva para que possamos ter mais tranquilidade ainda”).

(João Montanaro, http://www.folha.uol.com.br)



A segunda bomba era provavelmente mais previsível, dada a dimensão gigantesca que atingira o escândalo que assolou a Petrobras, e foi hoje consumada com a renúncia da presidente da empresa (Graça Foster, frequentemente encarada como protegida da presidenta Dilma) e de cinco dos seus diretores. Curiosa a reação de Aécio ao vir dizer que a dita “só foi demitida após falar verdade”, reportando-se a uma recente referência de Foster no sentido que a segunda vinheta abaixo dá a devida conta.



Da maneira e à velocidade que as coisas vão, não tardará muito que até aqueles milhões de brasileiros comecem a não ter mais saudades do futuro do que do passado e dirijam ao PT e ao establishment político aquela canção que Cazuza dedicara à ditadura: “Meu partido é um coração partido / E as ilusões estão todas perdidas / Os meus sonhos foram todos vendidos / Tão barato que eu nem acredito”...

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