Para gáudio do nosso velho amigo Urbano Sonzini Astudillo, assim como de todos os seus compatriotas argentinos, a equipa azul-celeste lá escapou de ficar pela fase de grupos do Mundial ao vencer a Nigéria com um golo de Rojo na parte terminal de um encontro em que finalmente venceu mas voltou a não convencer.
Já nem o futebol e o ídolo Messi ajudam o país a minorar o ciclo depressivo que há longo tempo o vem atingindo. Com efeito, as crises têm-se sucedido de forma quase estonteante nas últimas mais de quatro décadas: recordemos, sem sermos exaustivos, a desvalorização do peso em 160% e a inflação a chegar aos 777% em 1975 (o Rodrigazo), a quebra do PIB em 10% durante o governo militar (1981), a bancarrota de 1989 (com uma quebra do PIB de 12% em dois anos) e o corralito de 2001. Veja-se assim, numa perspetiva secular, o impressionante gráfico abaixo, bem revelador da perda de peso da Argentina no contexto mundial, onde já ocupa uma posição que ronda o 50º lugar em termos de PIB per capita (contra o 5º de final do século XIX ou o 11º de meados do século XX), e mesmo latino-americano (o país está hoje largamente afastado do Brasil e do México no ranking dos países de uma região onde já foi potência dominante ou disputou palmo a palmo a liderança com o Brasil).
Acresce a esta desgraça estrutural o facto de a Argentina ter sido objeto, no início do mês, de um resgate no valor de 50 mil milhões de dólares (em torno de 10% do seu PIB) por parte do FMI, na sequência de uma negociação muito rapidamente precipitada pela imperiosidade de se susterem os riscos mais imediatos associados às turbulências de maio (desvalorização do peso em 22 pontos e taxas de juro a subirem até aos 40%). Com a receita é a de sempre: a contrapartida de um equilíbrio orçamental a atingir em três anos (leia-se 19,3 mil milhões), ou seja, um esforço gigantesco e seguramente gerador de uma nova onda de mal-estar social.
Será que a sorte e o engenho de Messi e seus pares vão mudar no jogo dos oitavos contra os franceses? Até certo ponto, veria com um certo agrado que um pequeno paliativo desse tipo pudesse ser servido ao simpático povo argentino...
(Bernardo Erlich, http://www.clarin.com)
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