domingo, 24 de junho de 2018

BRUNO E SEU CONTRÁRIO




No tempo em que escrevo, tudo leva a crer que a derrota expressiva na Assembleia Geral de destituição não será suficiente para o inenarrável Bruno aceitar a desfeita, meter a viola no saco e abafar as mágoas para qualquer sítio do mais recôndito de Portugal e arredores, sozinho ou acompanhado de algumas das também inenarráveis personagens que o adotaram como veículo de expressão das suas frustrações. Até pode ser com a vampírica Elsa Tiago Judas, uma personagem digna de banda desenhada a preto e branco sobre demónios e outras coisas que tal. A exposição mediática a que Bruno se submeteu voluntariamente, acolitado por uma comunicação social que já perdeu há muito os critérios editoriais decentes como referência, transformou-se num comportamento de pura adicção, uma droga da qual o personagem não consegue libertar-se. Escrevia Miguel Sousa Tavares no Expresso, que para resolver o problema Bruno Carvalho era necessário assegurar-lhe um modo de sobrevivência. É sugestivo mas já não chega. O homem tornou-se consumidor inveterado do confronto e da projeção mediática. Foi só vê-lo chegar ao espaço da AG de destituição e seguir a sua trajetória em direção às urnas de voto e perceber o seu ar de gozo perante os abraços e saudações violentos de que era alvo, como se um deus se tratasse. A destituição é o buraco negro do consumidor quando lhe falta a dose diária. Por isso, Bruno e seu contrário convivem, alterando sobre o mesmo assunto a sua posição e testemunho. O tempo de Bruno já não tem fruição, esgota-se a cada momento e a cada momento tem de ser reinventado.

Para mim o relevante de tudo isto é que, embora hoje minoritária na organização Sporting, Bruno tem uma corte de fiéis seguidores que foram gente graças a ele e à sua reinvenção permanente. As elites leoninas, a quem Bruno chama curiosamente Viscondes, abriram-lhe o caminho e isso é que fundamentalmente me preocupa. Não posso dissociar o futebol do Sporting do que poderia acontecer noutros clubes (é só criar as condições para tal) e como o futebol não é um OVNI na sociedade o caso Bruno não me sossega (a pretexto da irracionalidade do futebol) quanto à aparente indiferença que o Portugal político tem dedicado ao populismo. Será que esta gente não vota?

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