No tempo em
que escrevo, tudo leva a crer que a derrota expressiva na Assembleia Geral de
destituição não será suficiente para o inenarrável Bruno aceitar a desfeita,
meter a viola no saco e abafar as mágoas para qualquer sítio do mais recôndito de
Portugal e arredores, sozinho ou acompanhado de algumas das também inenarráveis
personagens que o adotaram como veículo de expressão das suas frustrações. Até
pode ser com a vampírica Elsa Tiago Judas, uma personagem digna de banda
desenhada a preto e branco sobre demónios e outras coisas que tal. A exposição
mediática a que Bruno se submeteu voluntariamente, acolitado por uma comunicação
social que já perdeu há muito os critérios editoriais decentes como referência,
transformou-se num comportamento de pura adicção, uma droga da qual o
personagem não consegue libertar-se. Escrevia Miguel Sousa Tavares no Expresso,
que para resolver o problema Bruno Carvalho era necessário assegurar-lhe um
modo de sobrevivência. É sugestivo mas já não chega. O homem tornou-se
consumidor inveterado do confronto e da projeção mediática. Foi só vê-lo chegar
ao espaço da AG de destituição e seguir a sua trajetória em direção às urnas de
voto e perceber o seu ar de gozo perante os abraços e saudações violentos de
que era alvo, como se um deus se tratasse. A destituição é o buraco negro do
consumidor quando lhe falta a dose diária. Por isso, Bruno e seu contrário
convivem, alterando sobre o mesmo assunto a sua posição e testemunho. O tempo
de Bruno já não tem fruição, esgota-se a cada momento e a cada momento tem de
ser reinventado.
Para mim o
relevante de tudo isto é que, embora hoje minoritária na organização Sporting,
Bruno tem uma corte de fiéis seguidores que foram gente graças a ele e à sua
reinvenção permanente. As elites leoninas, a quem Bruno chama curiosamente
Viscondes, abriram-lhe o caminho e isso é que fundamentalmente me preocupa. Não
posso dissociar o futebol do Sporting do que poderia acontecer noutros clubes (é
só criar as condições para tal) e como o futebol não é um OVNI na sociedade o
caso Bruno não me sossega (a pretexto da irracionalidade do futebol) quanto à
aparente indiferença que o Portugal político tem dedicado ao populismo. Será
que esta gente não vota?
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