Já aqui
tinha referido neste blogue o assomo de dignidade com que Mariano Rajoy deixou
o poder, encarando a moção de censura de que foi alvo e cujo desfecho não terá
devidamente antecipado com normalidade democrática. Uma saída digna, aliás
reconhecida pela generalidade da esquerda espanhola, surpreendentemente unida
no rechaço do então primeiro-Ministro de Espanha. Fui por vezes contundente com
a inépcia política de Rajoy, incapaz de perceber os danos irreparáveis que os
banhos de corrupção estavam a produzir no PP e por arrastamento na democracia
espanhola. O prolongamento dessa inépcia poderia ter custado caro à democracia
espanhola, quando Mariano tinha nas suas mãos a solução antecipando eleições e
indo à luta com o arrivismo do CIUDADANOS. Mas contundência política não
significa insensibilidade face às manifestações de dignidade. Mariano abandonou a
cena política, discreto como sempre e regressou ao seu posto de “registrador”,
creio que uma espécie de conservatória de registo predial, em Santa Pola, nas
cercanias de Alicante, provavelmente em transição para um posto mais próximo da
sua residência em Madrid. Não é normal em democracia esta saudável prática de
retoma do que fazíamos antes. E estou certo que neste Agosto passará as suas
férias num recanto da Galiza, almoçando ou jantando no Clube Naval de San
Xenxo, como um normal veraneante, conversando com amigos e à margem da disputa
eleitoral no PP. Chamarão alguns a esta prática demagogia política,
preparatória de outras aspirações. Não faço parte dessa tropa. Sempre admirei
políticos como o sueco Olof Palme que era frequentemente visto nos cafés, livrarias,
espetáculos musicais ou outras manifestações da vida cultural e cívica. Gosto
de políticos que sejam transparentes nos seus hábitos, gosto de os ver noutros
espaços que não os da decisão política, embora muitos não aguentem o embate
dessa transparência.
Por isso, o
regresso de Rajoy ao seu posto de funcionário numa conservatória das cercanias
de Alicante é uma rara prova de humildade. Vale o que vale, mas dignifica alguém
rodeado por todos os lados de sinais de quem meteu a mão em dinheiro alheio. Poderão
também dizer-me que é uma espécie de auto fustigação para tanta inépcia política.
Não creio que ande por aí. Acho que estamos simplesmente diante de alguém que
quis regressar à liberdade (dirão alguns contida) de uma atividade fora das
luzes mediáticas da política. Está no seu direito.
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