domingo, 24 de junho de 2018

REGISTRADOR




Já aqui tinha referido neste blogue o assomo de dignidade com que Mariano Rajoy deixou o poder, encarando a moção de censura de que foi alvo e cujo desfecho não terá devidamente antecipado com normalidade democrática. Uma saída digna, aliás reconhecida pela generalidade da esquerda espanhola, surpreendentemente unida no rechaço do então primeiro-Ministro de Espanha. Fui por vezes contundente com a inépcia política de Rajoy, incapaz de perceber os danos irreparáveis que os banhos de corrupção estavam a produzir no PP e por arrastamento na democracia espanhola. O prolongamento dessa inépcia poderia ter custado caro à democracia espanhola, quando Mariano tinha nas suas mãos a solução antecipando eleições e indo à luta com o arrivismo do CIUDADANOS. Mas contundência política não significa insensibilidade face às manifestações de dignidade. Mariano abandonou a cena política, discreto como sempre e regressou ao seu posto de “registrador”, creio que uma espécie de conservatória de registo predial, em Santa Pola, nas cercanias de Alicante, provavelmente em transição para um posto mais próximo da sua residência em Madrid. Não é normal em democracia esta saudável prática de retoma do que fazíamos antes. E estou certo que neste Agosto passará as suas férias num recanto da Galiza, almoçando ou jantando no Clube Naval de San Xenxo, como um normal veraneante, conversando com amigos e à margem da disputa eleitoral no PP. Chamarão alguns a esta prática demagogia política, preparatória de outras aspirações. Não faço parte dessa tropa. Sempre admirei políticos como o sueco Olof Palme que era frequentemente visto nos cafés, livrarias, espetáculos musicais ou outras manifestações da vida cultural e cívica. Gosto de políticos que sejam transparentes nos seus hábitos, gosto de os ver noutros espaços que não os da decisão política, embora muitos não aguentem o embate dessa transparência.

Por isso, o regresso de Rajoy ao seu posto de funcionário numa conservatória das cercanias de Alicante é uma rara prova de humildade. Vale o que vale, mas dignifica alguém rodeado por todos os lados de sinais de quem meteu a mão em dinheiro alheio. Poderão também dizer-me que é uma espécie de auto fustigação para tanta inépcia política. Não creio que ande por aí. Acho que estamos simplesmente diante de alguém que quis regressar à liberdade (dirão alguns contida) de uma atividade fora das luzes mediáticas da política. Está no seu direito.

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