(Semana com fim agitado, duas intervenções públicas no
mesmo dia, a próxima sexta-feira, 15 de junho. A primeira de manhã,
em Lisboa, numa sessão de encerramento da discussão pública do PNPOT,
intervindo num painel moderado pelo Secretário de Estado Adjunto do Ministro do
Ambiente José Mendes e a segunda, em Évora, num painel sobre 30 anos de políticas
públicas no Alentejo, inserido no 2nd
Meeting of the UMPP Master and Doctoral Consortium for Research on Public
Policy, coordenado pelo Professor Paulo Neto. Resultado: pouco tempo esta
semana para animação do blogue).
Convites
aceites há algum tempo, mudanças de datas imprevistas, logo probabilidade elevada
de coexistência no tempo do que, pelo menos no que respeita à sessão em Évora,
deveria ser uma passagem distendida por uma Cidade que vale a pena sempre
revisitar, com gastronomia de eleição, nada pertinente para uma dieta de
hidratos de carbono.
Por isso, ao
longo da semana e salvo inspiração irrecusável, os posts andarão em torno de material para as duas intervenções.
Quanto ao
painel sobre a discussão pública do PNPOT, a minha relação com o ordenamento do
território é de um visitante que, ainda que fugaz e acidental, se deixa envolver
pelas experiências. Comecei há longos anos, cerca de quarenta, a minha
atividade de consultor como economista a colaborar com o Gabinete do meu Amigo Manuel
Fernandes de Sá em matérias de planos municipais, assumindo a responsabilidade
do que então chamávamos análise económica do território. Hoje designamos de
modo mais abrangente essa atividade de análise territorial em diferentes dimensões
disciplinares. Prossegui depois essa atividade na Planum, num projeto que me trouxe
dois amigos já desaparecidos, o Arquiteto Nuno Guedes de Oliveira e o Professor
Abílio Cardoso e outros amigos ainda em atividade como o Manuel Miranda. Mais
tarde, como consultor na CCDRN, assumi mais a componente de economia regional,
mas frequentemente entrava pelos domínios do ordenamento do território, sendo necessário
estabelecer pontes disciplinares entre a economia do desenvolvimento regional e
o ordenamento. Não andei longe dessa inspiração em muitos trabalhos na
Quaternaire e tive o prazer de coordenar uma ampla equipa científica e
universitária nos trabalhos técnicos do Plano Regional de Ordenamento do Território
da Região Centro. Trabalho gratificante mas que deixou a frustração (em toda a
equipa) de se ter perdido nos corredores do Ministério aguardando publicação, que
nunca se observou por falta de vontade política em assumir compromissos de programação
que o Plano configura como legalmente é estabelecido.
Tenho a sensação
de que esta passagem fugaz e acidental pelo ordenamento do território, que
deixou marcas relevantes na minha maneira de pensar o território, sendo dos primeiros
a falar de competitividade territorial, contribuiu indevidamente para algum acantonamento
da minha parte como macroeconomista que gostaria de ter sido, com mais
notoriedade e presença regular. Mas como não dado a muitos azedumes, a vida
vai-se fazendo em função dos caminhos e encruzilhadas com escolhas irreversíveis,
“path-dependent” (dependentes do
percurso como dizemos na economia evolucionista da inovação), lá estou de novo
a cruzar-me com o ordenamento do território, neste caso a comentar a revisão do
PNPOT.
A revisão do
PNPOT procura equacionar as principais tendências e desafios colocados ao território
nacional (continente e ilhas) num horizonte 2050, desenhando uma proposta de
modelo territorial para 2030. Um homem esperançoso dirá que é um bom tempo de
referência. Vamos programar o novo período de Fundos Estruturais, 2021-2030,
com um PNPOT discutido, assumido e com compromissos de programação, configurando
um dado modelo territorial. Em princípio, os astros parecem estar em órbita
convergente, o que é coisa rara em matéria de planeamento. Mas um homem esperançoso
não é parvo e sabe que não chega a convergência dos astros para um bom
resultado. É necessária a convergência dos homens, dos políticos, dos
decisores, dos investidores, de muita gente de cujo comportamento dependerá o
preenchimento em concreto dos cartogramas e compromissos agora assumidos na
revisão do PNPOT.
O território
é para muita boa gente uma realidade demasiado distante. Para uns é apenas o
destino de algumas inaugurações. Para outros, um destino de localização de um
investimento, em função de um algoritmo qualquer de avaliação de vantagens e
inconvenientes, pontos fortes e fracos. Mas para muita gente é fonte de condições
de vida, razão de existência, de direito democrático inalienável à mobilidade
para construir uma vida familiar e profissional. Bastaria esta dimensão para a
levar a sério, como sempre levei, contra a maré dos que associam planeamento
territorial a wishful thinking. E é nessa
base que lá estarei sexta-feira próxima a debater com outras sensibilidades de interpretação
do território.
Em próximo post, darei conta dos dois níveis de
organização da minha intervenção: o que me agradou mais na estratégia, modelo e
agenda territorial e o que me parece exigir reflexões mais prolongadas sobre
matérias menos conseguidas na versão submetida à discussão pública.
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