(O fogo de artifício das alarvidades e inconstâncias de
Trump tem ocultado as estratégias de poder e de controlo das ideias que
germinam em torno do isco vistoso do Presidente. Mas há quem
mantenha o espírito crítico e beligerante, a bem da transparência e da força
das ideias.)
Têm razão
aqueles que consideram que a presidência de Trump não é um epifenómeno, um
sonho mau transformado em pesadelo, mas que não passa disso. As alarvidades, o
comportamento errático e indecoroso do Presidente, a sua propensão para medidas
irrefletidas baseadas em argumentos económicos falaciosos têm dissimulado o
essencial: a candidatura de Trump racionaliza o período de agravamento das
desigualdades na sociedade americana. A máxima é a seguinte: para quê capturar
interesses se podemos governar? Nos tempos da nossa revolução, pairava pelas
paredes um slogan provavelmente de
reminiscências anarquistas que se a memória não me atraiçoa era mais ou menos o
seguinte: “As putas ao poder que os
filhos já lá estão”. Neste caso, com empresários do 1% mais rico no poder,
há que tratar da saúde de outros ambientes.
Como é
óbvio, os ambientes da informação e das Universidades constituem o próximo
estádio da agenda do controlo das ideias. Há sempre candidatos ao exercício
dessa função, em busca de protagonismo e partilha dos lucros. Mas as
instituições da sociedade americana resistem. Tendemos a confundir a
Universidade americana com o mainstream
da ciência económica, habitualmente avesso a grandes incursões
político-ideológicas. Basta-lhe o status
quo desse mainstream para serem agraciados por isso. Mas o ambiente interno
das Universidades é bem mais rico do que possa parecer pelo tipo de economia
que se ensina em algumas delas. A liberdade de pensamento e debate é um valor e
tem resistido aos assaltos do 1% mais rico, apesar do modelo de financiamento.
Recentemente,
a universidade de Stanford foi palco de ofensivas dessa natureza,
protagonizadas pelo historiador Niall Ferguson, responsável por um programa na
Universidade designado de Cardinal
Sessions, no qual a universidade animou palestras de diferentes
conservadores, com matéria do género de que as diferenças entre brancos e
negros em termos de inteligência teriam razões genéticas para acontecerem. Face
à reação massiva dos estudantes de Stanford, Ferguson apelou aos estudantes de
direita para uma revolta contra os Social Justice
Warriors. Enfim, algo com mais calibre do que terá sucedido na
Nova em Lisboa com as estúpidas diatribes mais ou menos bloquistas contra Jaime
Nogueira Pinto. No The Daily Stanford pode ler-se que Ferguson se demitiu da orientação
das Cardinal Sessions a partir do momento em que foi publicada correspondência
eletrónica do historiador com os estudantes republicanos para enquadrar a sua
ação (link aqui).
Para
registar este ambiente, nada melhor do que um excerto da crónica de Krugman que
permanece atento contra o clima de intimidação que a ascensão de Trump está a
patrocinar (link aqui):
“Na verdade, os grupos conservadores estão empenhados num
esforço sistemático de impor padrões políticos à educação superior. Por
exemplo, sabemos que os irmãos Koch usaram os donativos para ganhar poder sobre
os recrutamentos académicos pelo menos em duas universidades.
O que é isso significa para todos nós? Significa que se assumirem um
qualquer papel que implique informar as pessoas – seja no ensino ou no jornalismo
–não devem consentir que gurus da direita vos submetam.
Nestes dias, quer as Universidades quer as novas organizações estão sob uma
pressão constante não apenas para serem simpáticos para com Trump mas também
para respeitar as perspetivas de direita em curso. As pessoas que protagonizam
essas exigências clamam por justiça.
Depois têm de se lembrar que essa exigência é feita de má-fé. Não tem nada
que ver com justiça; tem tudo a ver com poder.”
Quem escreve
assim …
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