(Janez Jansa, vencedor das eleições eslovenas, com um discurso anti-imigração)
(Reconstituindo dinâmicas perversas recentes, os rombos no
projeto do Euro e na própria União Europeia formam-se em várias frentes. A situação
em Itália é preocupante, mas a massa crítica de ameaças vem sobretudo do leste
europeu. Vejamos o que a Alemanha tem a dizer sobre isso. Talvez
perceba que a sua defesa de um mercado de proximidade tão apetitoso que a
compensasse do colossal esforço da reunificação tem tudo para correr mal.)
A história da
transformação e integração sob o manto da União dos países que resultaram da
desagregação do bloco de leste e que se libertaram da sua influência está fundamentalmente
por fazer. O apetite que essas economias aguçaram na União em termos de mercados
a conquistar pela sedução do consumo e de destino natural do investimento direto
alemão conduziu a uma clara sobrevalorização dos benefícios (para eles e para a
União) da sua integração. Rapidamente os ritmos de crescimento atingidos facilitaram
a manobra. Afinal, o Ocidente estava desejoso de mostrar que a libertação
compensava. É um facto que inicialmente houve alguns problemas para colocar a máquina
do mercado em andamento, a começar por coisas “simples” como o cadastro da
propriedade. Coisa que não fosse resolvida com mais ou menos tempo. Afinal,
sempre se acreditou que quem teve a coragem e a iniciativa de lutar contra os tanques
revelava implicitamente capacidade de empreendimento, seria tudo uma questão de
tempo e de lhes proporcionar as condições para a realização dos seus sonhos. Com
o IDE a ajudar, recompondo a capacidade produtiva e de investimento.
Inebriados pelo
êxito da sedução e da recuperação do potencial produtivo sobre uma qualificação
que estava lá, ignorou-se de princípio o aumento rapidíssimo da desigualdade que
a transição para a economia de mercado estava a determinar. Um dano colateral
que era compensado pela conquista de tantos países ao autoritarismo económico.
Quando o
marxismo não dogmático se estudava e discutia em algumas universidades (bons
tempos), as questões da transição eram matéria de grande atenção. Simplesmente,
agora a transição de que se tratava era a inversa. As estruturas do socialismo
e comunismo estatal desagregavam-se para dar caminho ao mercado, o omnipresente
mercado. Muito pouca gente estava preparada para tal tarefa. E a transformação social
e política foi sendo ignorada, esquecida, remetida para um resquício de velhas preocupações,
postas em desuso pelo florescimento dos mercados.
Mas a
democracia trouxe para o poder personagens estranhos e esquisitos a partir do momento
em que os resistentes à influência soviética foram desaparecendo pela usura da
vida. A xenofobia, autoritarismo e aversão à sociedade civil de Orbán na Hungria assustou
as hostes, mas a União fez de conta que era um fenómeno marginal. O PPE até o
acolheu nas suas hostes e isso deu para ver como isso de valores europeus é
coisa demasiado flexível. Na Polónia, o conservadorismo religioso começou a transcender
as questões do culto e a informar uma organização social, com laivos
assustadores. Sinais populistas ditados pela demonstração do poder do dinheiro
começaram a entusiasmar eleitorados, com manifestações na República Checa e na
Eslováquia. A crise dos refugiados colocou a nu que tipo de solidariedade europeia
estão estes regimes dispostos a defender. A Alemanha de Merkel engoliu em seco,
já que face a esses comportamentos desviantes contrapõem-se os mercados de
proximidade física e organizacional. A Eslovénia é o último país a chegar a tal
rumo, com um partido populista e de direita pro-fascizante a ganhar as eleições
sem maioria, mas ganhando através da bandeira da xenofobia, num país em que o número
de refugiados é praticamente residual.
Estancada a
via populista em França com um Macron a baralhar o esquema, o contraponto populista
faz-se agora entre o centro-sul de Itália (com um conluio populista de esquerda
e de direita) e o leste europeu. Não só a União acolhe esse contraponto, como
também a zona Euro e a NATO. Se isto não é um cavalo de Troia dos tempos modernos
e populistas, expliquem-me.
E perante
tais ameaças são os movimentos especulativos das taxas de juro de curto prazo que
nos preocupam? Que raio de Conselho Europeu está a ser gizado para enfrentar
esta deriva?
(Financial Times, link aqui)
Entretanto,
talvez contraditoriamente com estas ameaças, o apoio na União ao projeto do Euro
atingiu o seu ponto mais elevado desde 2004. Vá lá compreender estes Europeus
ou estas sondagens!
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