segunda-feira, 4 de junho de 2018

A LESTE PÓLVORA DE NOVO

(Janez Jansa, vencedor das eleições eslovenas, com um discurso anti-imigração)

(Reconstituindo dinâmicas perversas recentes, os rombos no projeto do Euro e na própria União Europeia formam-se em várias frentes. A situação em Itália é preocupante, mas a massa crítica de ameaças vem sobretudo do leste europeu. Vejamos o que a Alemanha tem a dizer sobre isso. Talvez perceba que a sua defesa de um mercado de proximidade tão apetitoso que a compensasse do colossal esforço da reunificação tem tudo para correr mal.)

A história da transformação e integração sob o manto da União dos países que resultaram da desagregação do bloco de leste e que se libertaram da sua influência está fundamentalmente por fazer. O apetite que essas economias aguçaram na União em termos de mercados a conquistar pela sedução do consumo e de destino natural do investimento direto alemão conduziu a uma clara sobrevalorização dos benefícios (para eles e para a União) da sua integração. Rapidamente os ritmos de crescimento atingidos facilitaram a manobra. Afinal, o Ocidente estava desejoso de mostrar que a libertação compensava. É um facto que inicialmente houve alguns problemas para colocar a máquina do mercado em andamento, a começar por coisas “simples” como o cadastro da propriedade. Coisa que não fosse resolvida com mais ou menos tempo. Afinal, sempre se acreditou que quem teve a coragem e a iniciativa de lutar contra os tanques revelava implicitamente capacidade de empreendimento, seria tudo uma questão de tempo e de lhes proporcionar as condições para a realização dos seus sonhos. Com o IDE a ajudar, recompondo a capacidade produtiva e de investimento.

Inebriados pelo êxito da sedução e da recuperação do potencial produtivo sobre uma qualificação que estava lá, ignorou-se de princípio o aumento rapidíssimo da desigualdade que a transição para a economia de mercado estava a determinar. Um dano colateral que era compensado pela conquista de tantos países ao autoritarismo económico.

Quando o marxismo não dogmático se estudava e discutia em algumas universidades (bons tempos), as questões da transição eram matéria de grande atenção. Simplesmente, agora a transição de que se tratava era a inversa. As estruturas do socialismo e comunismo estatal desagregavam-se para dar caminho ao mercado, o omnipresente mercado. Muito pouca gente estava preparada para tal tarefa. E a transformação social e política foi sendo ignorada, esquecida, remetida para um resquício de velhas preocupações, postas em desuso pelo florescimento dos mercados.

Mas a democracia trouxe para o poder personagens estranhos e esquisitos a partir do momento em que os resistentes à influência soviética foram desaparecendo pela usura da vida. A xenofobia, autoritarismo e aversão à sociedade civil de Orbán na Hungria assustou as hostes, mas a União fez de conta que era um fenómeno marginal. O PPE até o acolheu nas suas hostes e isso deu para ver como isso de valores europeus é coisa demasiado flexível. Na Polónia, o conservadorismo religioso começou a transcender as questões do culto e a informar uma organização social, com laivos assustadores. Sinais populistas ditados pela demonstração do poder do dinheiro começaram a entusiasmar eleitorados, com manifestações na República Checa e na Eslováquia. A crise dos refugiados colocou a nu que tipo de solidariedade europeia estão estes regimes dispostos a defender. A Alemanha de Merkel engoliu em seco, já que face a esses comportamentos desviantes contrapõem-se os mercados de proximidade física e organizacional. A Eslovénia é o último país a chegar a tal rumo, com um partido populista e de direita pro-fascizante a ganhar as eleições sem maioria, mas ganhando através da bandeira da xenofobia, num país em que o número de refugiados é praticamente residual.

Estancada a via populista em França com um Macron a baralhar o esquema, o contraponto populista faz-se agora entre o centro-sul de Itália (com um conluio populista de esquerda e de direita) e o leste europeu. Não só a União acolhe esse contraponto, como também a zona Euro e a NATO. Se isto não é um cavalo de Troia dos tempos modernos e populistas, expliquem-me.

E perante tais ameaças são os movimentos especulativos das taxas de juro de curto prazo que nos preocupam? Que raio de Conselho Europeu está a ser gizado para enfrentar esta deriva?

(Financial Times, link aqui)

Entretanto, talvez contraditoriamente com estas ameaças, o apoio na União ao projeto do Euro atingiu o seu ponto mais elevado desde 2004. Vá lá compreender estes Europeus ou estas sondagens!

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