(Agora que o peso das exportações de bens e serviços no PIB
atinge os 45%, a pergunta certa a fazer é se o aumento desta variável representa
ou não uma mudança estrutural sustentada. A resposta é matizada. Em
si próprio, o aumento do peso dos transacionáveis na alocação de recursos é em
si próprio uma alteração estrutural relevante. Mas o seu caráter sustentado
depende de outras variáveis.)
Desde tempos
anteriores ao período do resgate financeiro, o peso das exportações no PIB tem
aumentado, salvo pequenas oscilações que não lograram interromper o movimento
registado. Pode dizer-se que a economia portuguesa emendou a mão dos problemas
que determinaram a agonia do seu crescimento, ou seja, o peso excessivo dos não
transacionáveis na alocação de recursos. Até valeria a pena ter em conta gente que
diz que, na agonia observada do crescimento, a década de 2000 representou a
exaustão de um modelo mas também os primeiros passos para um mais decisivo peso
dos transacionáveis. O arranque observado no resgate financeiro pode dizer-se
que foi artificial, pois a procura interna foi submetida a um valente choque de
contração e muitas empresas portuguesas reagiram a esse choque focando a capacidade
produtiva disponível nos mercados externos de mais fácil entrada. Mas após essa contração, o movimento persistiu.
O valor
quase atingido dos 45% aproxima-se mais de um rácio de extroversão ajustado a uma
economia com a dimensão da nossa e pode trazer consigo, se o modelo de
especialização for ele próprio também ajustado, aumentos de produtividade do
trabalho, melhor acolhimento de qualificações e desejavelmente salários mais
compensadores da variação das qualificações na economia portuguesa. As empresas
submetidas à concorrência dos mercados externos tendem a ser mais eficientes e com
maior produtividade do trabalho. Nesse sentido, o aumento do peso “Exportações/PIB”
representa em si próprio um fator de crescimento.
A pergunta incómoda
consiste em saber se tal mudança estrutural é sustentada. A sustentação da
mudança positiva registada depende em primeira linha do ritmo de crescimento do
comércio mundial, no qual estamos pelo menos para algumas mercadorias e
serviços a ganhar quota. Ora sabemos que as tropelias de Trump em matéria de comércio
mundial e sobretudo a instabilidade das suas posições podem vir no futuro
associadas a guerras comerciais que não aproveitam a ninguém. Mas o fator que
gostaria de destacar é o comportamento da taxa de investimento. Ganhos do peso
das exportações na alocação de recursos sem relevantes alterações do
comportamento da formação bruta de capital fixo, designadamente em maquinaria e
equipamento, merecem desconfiança.
Por isso,
sem embargo dos riscos de desatinos do comércio mundial, o comportamento da formação
bruta de capital fixo privada, designadamente o seu peso no PIB, merece leitura
atenta nos tempos futuros, sempre em linha com a análise do peso das exportações.
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