domingo, 10 de junho de 2018

MUDANÇA ESTRUTURAL?



(Agora que o peso das exportações de bens e serviços no PIB atinge os 45%, a pergunta certa a fazer é se o aumento desta variável representa ou não uma mudança estrutural sustentada. A resposta é matizada. Em si próprio, o aumento do peso dos transacionáveis na alocação de recursos é em si próprio uma alteração estrutural relevante. Mas o seu caráter sustentado depende de outras variáveis.)

Desde tempos anteriores ao período do resgate financeiro, o peso das exportações no PIB tem aumentado, salvo pequenas oscilações que não lograram interromper o movimento registado. Pode dizer-se que a economia portuguesa emendou a mão dos problemas que determinaram a agonia do seu crescimento, ou seja, o peso excessivo dos não transacionáveis na alocação de recursos. Até valeria a pena ter em conta gente que diz que, na agonia observada do crescimento, a década de 2000 representou a exaustão de um modelo mas também os primeiros passos para um mais decisivo peso dos transacionáveis. O arranque observado no resgate financeiro pode dizer-se que foi artificial, pois a procura interna foi submetida a um valente choque de contração e muitas empresas portuguesas reagiram a esse choque focando a capacidade produtiva disponível nos mercados externos de mais fácil entrada. Mas após essa contração, o movimento persistiu.

O valor quase atingido dos 45% aproxima-se mais de um rácio de extroversão ajustado a uma economia com a dimensão da nossa e pode trazer consigo, se o modelo de especialização for ele próprio também ajustado, aumentos de produtividade do trabalho, melhor acolhimento de qualificações e desejavelmente salários mais compensadores da variação das qualificações na economia portuguesa. As empresas submetidas à concorrência dos mercados externos tendem a ser mais eficientes e com maior produtividade do trabalho. Nesse sentido, o aumento do peso “Exportações/PIB” representa em si próprio um fator de crescimento.

A pergunta incómoda consiste em saber se tal mudança estrutural é sustentada. A sustentação da mudança positiva registada depende em primeira linha do ritmo de crescimento do comércio mundial, no qual estamos pelo menos para algumas mercadorias e serviços a ganhar quota. Ora sabemos que as tropelias de Trump em matéria de comércio mundial e sobretudo a instabilidade das suas posições podem vir no futuro associadas a guerras comerciais que não aproveitam a ninguém. Mas o fator que gostaria de destacar é o comportamento da taxa de investimento. Ganhos do peso das exportações na alocação de recursos sem relevantes alterações do comportamento da formação bruta de capital fixo, designadamente em maquinaria e equipamento, merecem desconfiança.

Por isso, sem embargo dos riscos de desatinos do comércio mundial, o comportamento da formação bruta de capital fixo privada, designadamente o seu peso no PIB, merece leitura atenta nos tempos futuros, sempre em linha com a análise do peso das exportações.

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